Friday, December 21, 2007

Reflexão LI

Tanto tempo depois, não esqueço.
Nunca mais vi, ouvi ou soube notícias.
Definitiva em tudo.
Era pra sempre. Era. Não é mais.

Friday, December 14, 2007

L'amore e L'egoismo

L’amore e l’egoismo sono parenti molto stretti.
Nella vita, ogni cosa é crocevia
Ed ci vuole um pó di fortuna:
È come abbinare il vino al cibo.
È un’arte che richiede esperienza
Le mie poesie sono ricordi di un viaggio
Magari anche soltanto immaginato, sognato,
Vissuto con la fantasia.
Ed è sempre l’emozione di un attimo
Che diventa idea.
È un elicottero per due
Per volare in coppia
Nell’alba di un nuovo giorno.

Monday, December 03, 2007

Reflexão L (feliz natal, Telita)

Ouvi dizer que você cresceu e não acredita mais em Papai Noel.
Curioso isso. Era você quem me fazia acreditar nele...

Eu saia escondido da casa da sua avó e ia pra nossa casa colocar os seus presentes sob a árvore iluminada, abrir sua cartinha, deixar um punhado de balas pelo chão, a rabanada “especial do Papai Noel” meio mordida e a janela escancarada...

Na volta para casa, você, cheia de ansiedade corria ver seus brinquedos, ligeira, corria pra janela me chamando, era você, com a voz feliz que me estrangulava o coração, que dizia apontando o céu:

- Olha lá, pai. Olha lá ele. Eu vi ele virando ali e indo embora...

Eu confirmava olhando o céu escuro, pontilhado de estrelas, certo de que ele existia mesmo e só a minha condição de adulto embrutecido é que me impedia de ver a mágica que brilhava nos seus pequenos olhos de menina.

Tuesday, November 27, 2007

Reflexão XLIX (a ideologia)

O Poeta, todo mundo sabe, é anarquista.
E está cansado de ter que explicar a ideologia:
Fim dos governos, o maior sonho humanista.
A organização horizontal, sem hierarquia.

Anarquia não é sinônimo de confusão como se crê.
O rebanho acostumado a ser conduzido é que não vê
Que o “Estado” de Hobbes não protege o cidadão,
E a “Soberania” do tratado de Westphalia é ficção.

O Estado, a história conta, produziu barbárie e tragédia.
O universo virtual é um bom exemplo de anarquia:
O conhecimento compartilhado construiu a wikipédia.

Conceitos “atualíssimos” são antigos ideais da anarquia:
Liberdade sexual, auto-ajuda, defesa dos animais e da natureza.
O mutualismo, diferente do comunismo, e que não gera pobreza.

Monday, November 26, 2007

Reflexão XLVIII (o vento forte)

O vento forte que balança o coqueiro,
É uma emoção irresistível e desfolhante.
Reanima o coração e deixa o olho brilhante.
Muito parecida com o grande amor primeiro.

Sentimento tardio, resquício de paixão.
Que deixa a alma marcada e saudosa.
Mistura os sentimentos num turbilhão.
Quando declarado, deixa a musa curiosa.

O vento forte faz pressão, insiste e passa.
Mas não sem deixar seu toque de magia.
Uma certa substância invisível que enlaça

Poderoso e dominador como o porre de cachaça.
Mas, depois, a ressaca é um sentimento de alegria
De saber-se vivo, de alma lavada e achando graça.

Thursday, November 22, 2007

Reflexão XLVII (ônibus)

O Poeta, todo mundo sabe, viaja de ônibus.
Sem opção, não é o transporte que o seduz.
Viaja em pé, apertado e sendo sacudido.
Agüenta solavanco, mau hálito e sovaco fedido.

Sentado ao lado de gente cheirando a cigarro.
Faz anos que não consegue comprar um carro.
Educado, cede seu lugar às pessoas mais idosas.
Raramente aparecem mulheres bonitas ou gostosas.

O motorista que conduz parece o governo de estado.
Serve a um senhor invisível e trata o povo como gado.
Descarrega sua raiva nos passageiros, o infeliz...

É duro esperar sob chuva e sol feito um estafeta
Só na Colômbia o cara que espera deve ser feliz
Lá, o ponto de ônibus, é “paradero de busseta”.

Monday, November 19, 2007

Reflexão XLVI (a dieta do poeta)

Se você fuma, ora, deixe de fumar.
Se bebe, beba. Mas com moderação.
Sexo é bom e faz muito bem ao coração.
Não pare, estique as pernas, vá caminhar.

Aos alimentos naturais dê preferência.
E pode comer sem arrependimentos.
Beba bastante água e evite condimentos.
É simples, não requer muita ciência.

Não se deve exagerar também na dieta.
Uma escapadinha não dói na consciência.
No sábado pode vir a feijoada completa.

Uma boa caipirinha e a cerveja predileta.
Na segunda-feira assuma a conseqüência:
Atitude. Regime. Não faça curva na reta.

Wednesday, November 14, 2007

Reflexão XLV (água)

A água que a minha sede sacia
Sem ela nada no mundo existe
Três estados mais a melancia
Tudo em perfeito ciclo persiste.

Toda a natureza utiliza essa via
Dois átomos de hidrogênio
Ligados a um de oxigênio
Fórmula simples que a vida cria.

Predizem que a água vai acabar.
Eu acho que o assunto é outro
Querem é o consumo onerar...

Justificam que custa muito tratar
Que água potável é igual a ouro
Querem mais é o líquido privatizar.

Monday, November 12, 2007

Reflexão XLIV (os amigos)

(I know I’ll often stop and think about them.)

Lembro frequentemente dos meus amigos. Gente que fez diferença na minha vida. Alguns famosos, outros mortais como eu. Pessoas abençoadas com talento especial ou simplesmente pessoas comuns e amigas. Lembro, com saudade, do Ermelindo Fiaminghi recolhendo flores de um pé de manjericão só para preparar um macarrão especial para o nosso almoço num domingo no atelier dele. Lembro do Amílcar de Castro recordando efusivamente de mim, feliz, quando pedi um autógrafo no catálogo de esculturas dele. Uma vez fui repreendido pelo Manabu Mabe por estar bebendo um uísque atrás do outro no seu vernissage e nesse dia conheci a Bruna Lombardi que me deu um beijo que jamais vou esquecer. Fiquei tão pertinho daqueles olhos verdes... Fui “valete” de Tomie Otake numa exposição no MAM. Lothar Charoux gostava das cores que eu usava. Fui elogiado por Ernesto Piva. Mario Chamie escreveu exaltando a minha pintura e até hoje pergunta de mim aos amigos. Aldemir Martins gostava das minhas visitas. Fui aluno de Joseph Louyten, hoje reitor numa universidade do Japão. Na USP, fui aluno do Antônio Cândido, do Luiz Tatit e do Martinho Lutero. Tive um relacionamento marcante com Joyce Cavalcante. Estudei no atelier do Paulo Acêncio, fui padrinho de casamento do Fernando Durão. Minha primeira publicação de poesia foi com Glauco Mattoso e Luiz Roberto Guedes. Fui colega de escola do Pascoal Ferreira da Conceição. Amigo de infância do Mário Garcia. Jorge Medauar sempre gostou dos meus textos e nossas reuniões eram sempre divertidas, falando da junventude dele descrita pelo Jorge Amado: “Medauar era o “ai jesus” das putas”. Juanribe Pagliarini fez a arte final do meu convite de casamento na agência de propaganda do Medauar. Hoje é escritor e não sei se lembra mais de mim. Comi pastéis de Santa Clara no apartamento da Wega Nery.
Lembro do Sonekka pedindo licença pra tocar violão no meu bar e acabamos parceiros em Remédio Inútil, com o querido Zé Edu. O pessoal do Clube Caiubi. O pessoal de Santos, Schmidt, Cajé, Nando Lee, músico de primeira, parceiro e companheirão de horas de conversa lá em casa, que ofereceu o almoço quando conheci a Lis Rodrigues que, sem saber, me fez lembrar do vento forte que balança o coqueiro. Através do Nando, conheci Zé Rodrix, na casa dele, quando me identifiquei como irmão na pedra e ganhei seus dois primeiros livros. Lá conheci também o Tavito.
Glauco me apresentou o Augusto de Campos, o Arnaldo Antunes, a Leila Míccolis, o Paranaguá e o Edílson.
Tantos outros amigos que a gente não esquece, mesmo quando não lembra. Lembro da Lígia e do desespero de amor que vivi com ela. O cheiro e o toque da pele dela ainda permanecem e são marcantes para mim. Pra sempre. E mais um dia.

“With lovers and friends i still can recall, some are dead and some are living. In my life I loved you more.”

Wednesday, November 07, 2007

Reflexão XLIII (a educação)

Fui educado a respeitar os bons princípios.
Ser honesto, trabalhador, sincero e leal,
Agir com integridade e sempre de forma legal.
Respeitar as pessoas e aceitar todos os ofícios.

Aprendi até a me conformar com os sacrifícios.
Passei a vida praticando isso no convívio social,
Esperando com fé que me trouxesse benefícios.
Mas com esta prática só me dei mal.

Recusei propinas e vantagens extralegais.
Passei por bobo, idealista e irracional.
Perdi promoções e aumentos salariais.

Perdi para outros mais espertos e venais.
Cheguei a ser discriminado por ser frugal.
Venceram os desonestos, os falsos, os desleais.

Monday, November 05, 2007

Reflexão XLII (inverno)

Meu pai dizia que o frio chegava a doer
Agasalhados, ele me levando pra escola.
Num distante passado, não posso esquecer
Doía as orelhas, as mãos, o nariz e a sola

O frio sempre me incomoda muito, atrapalha.
Tudo fica mais difícil: levantar, tomar banho
Vestir roupas pesadas, casaco de lã e malha
Pego gripe, coriza e acabo falando fanho.

Imagino aquele que vive no frio, coitado.
Graus abaixo de zero, uma friagem danada
Pra esse tipo de terra eu não fui moldado.

O bom do frio é o quente ar condicionado,
O conhaque e o corpo da mulher amada.
Debaixo das cobertas, uma lareira ao lado.

Thursday, November 01, 2007

Reflexão XLI (outono)

O Resfriamento da terra
O Sol oblíquo erra
O Ar puro condensa
Meu coração te pensa.

Vermelho outono desfolhado
O cheiro do solo molhado
Cobertor de folhas no chão
Época nem sim, nem não.

Tantos anos, tanta idade.
Nada se vive pela metade.

O futuro que seja sem guerra
Perto do mar. Ao pé da serra.

Tuesday, October 30, 2007

Reflexão XL (primavera)

Dá pra perceber no ar
Um cheiro novo no mar
Uma vibração na terra
A força da vida não erra

Novos verdes nas árvores
Flores coloridas na relva
Amor sobre os mármores
Acasalamento na selva

Primavera estação infantil
Renascimento preciso e útil
Confirmação do ciclo natural.

Esse continuar constante
Reencarna o fluxo abundante
Da alma na terra elemental.

Wednesday, October 24, 2007

Reflexão XXXIX (o abecedário)

O “ABC” do poeta é fácil saber
O “A” é de amar, meu verbo primeiro.
O “B” é de beber, devagar, maneiro.
Gosto de cozinhar, o “C” é de comer.

O “D” é de dormir, o “E” de escrever.
Não vou do abecedário desfiar o rosário.
Não é necessário todas as letras dizer.
Se não, o poema vira um dicionário.

Algumas letras a mais nesse roteiro
Vou resumir do jeito que puder.
O “G” me é sagrado porque sou pedreiro.

Letras que formam meu cancioneiro:
“T” de Telita, “R” de Renan, “M” de mulher.
“N” de Nadir, “P” de Pereira, pai guerreiro.

Monday, October 22, 2007

Reflexão XXXVIII (verão)

O Sol nos mira mais forte.
Mais próximo e constante no céu
Na terra, no hemisfério sul ou norte,
(depende) o calor aumenta, fica cruel.

A mulherada adora e tira a roupa
O que importa é do biquíni a marca
Shortinhos que exibem da bunda a polpa
Na sensualidade a vida embarca

Mil vezes o calor ao frio.
Sol e calor são vitaminas
A temperatura favorece o cio.

Nessa estação viro um vadio
Na praia, admirando as meninas
E bebendo até o desvario.

Friday, October 19, 2007

Reflexão XXXVII (adrenalina)

Adrenalina. Essa é minha droga atual.
O efeito no sangue é uma espécie de medo
E não preciso comprar, é tudo natural.
É preciso só atitude, coragem e cruzar o dedo

Em pulp fiction, vi injetar direto no coração.
Mas, sabe como é, coisa de cinema, ficção.
Bom é desafiar o perigo e sair ileso, vencedor
Vencido o desafio, a euforia suplanta a dor.

Saltar de páraquedas, bungee jump, páragliding.
Na briga de rua ou comendo a mulher do vizinho.
Prefiro correr risco. Nada de passear no shopping.

Adrenalina no sangue é o sal da vida em mim.
E, pela minha natureza, curto sempre sozinho
Não dou carona a ninguém, fica longe de mim.

Wednesday, October 17, 2007

Reflexão XXXVI (cores e sons)

De todas as cores, prefiro todos os tons.
Vibrações de luz em escalas definidas.
Um universo imenso de nuances infinitas
Fora do espectro, cores se tornam sons.

É o cérebro que enxerga e escuta.
Tudo que existe é movimento e vibração.
Cor possui caráter, matizes, saturação...
É quem observa que desvela sua conduta

Sons e cores dependem só da percepção.
Ouvi dizer de cegos que sonham colorido
E também de surdos que “ouvem” com a mão.

Não importa de que forma a gente decodifica
O que importa é como responde nossa emoção
O sentimento despertado que nos modifica.

Monday, October 15, 2007

Reflexão XXXV (desprezíveis)

Gente ruim. Encontro muita gente assim na minha vida.
Desprezíveis que se acercam de mim mal intencionadas.
Querem tirar alguma vantagem, sonsas e dissimuladas.
Já fui tolo, dei guarida e cheguei a dividir minha comida.

Não está escrito na testa, mas já aprendi a identificar.
Aparecem do nada, no bar, na praia e puxam assunto.
Muita conversinha e elogios me fazem logo desconfiar.
Incomodado, dou um jeito de cair fora, nada de ficar junto.

Só tive prejuízo com este tipo de pessoa, não me iludo mais.
Quando é mulher, dependendo da estampa, na manha,
pago uma, duas cervejas, pra ver se rola uma transa, não mais.

O cara que paga muitas elas chamam de otário pagão
Conheço umas meninas que abusam dessa artimanha
Eu, que já aprendi, não vou ficar bancando o bobo, não.

Thursday, October 11, 2007

Reflexão XXXIV (os relógios)

O Poeta, todo mundo sabe, por relógios é louco.
Essas máquinas maravilhosas de marcar o tempo
Que é uma abstração humana: dura muito ou pouco
Depende da percepção da pessoa em dado momento.

Não só por essa excentricidade de beleza poética,
Mas também porque é atraído por essas jóias caras:
Breitling, Cartier, Rolex, IWC, Bvlgari, peças raras...
Fosse rico teria uma coleção só pela emoção estética.

Os de pulso, a pedido de Dumont por Cartier inventados,
São os preferidos. O tempo não existe, linda jóia dialética.
Também fascina a base 60. Segundos e minutos somados.

Paradoxo despertador, desconstrutor dos sonos sonhados,
Baudelaire chamava de deus sinistro e, de forma profética,
Achava assustador e impassível. São só instantes marcados.

Tuesday, October 09, 2007

Reflexão XXXIII (a traição)

Nem o Filho de Deus escapou da traição.
Isso é o que eu mais abomino e detesto.
Da mulher, do amigo, do sócio e do irmão
Esse é o pior, o mais covarde e terrível gesto.

Não há defesa que seja possível na traição.
Tudo é feito às escondidas, nada é honesto.
E o traído é sempre o último a saber da ação.
É a lei do cão e o fim quase sempre é funesto.

Tem gente que mata, manda matar ou desiste.
Mas também tem quem perdoa, aceita e persiste
Seja como for, deixa sempre um rastro de rancor.

Trair sinaliza com precisão o fim do amor
Da amizade, do respeito, do bom que existe.
É a morte dos sentimentos. Nada depois resiste.

Reflexão XXXIII (a traição)

Nem o Filho de Deus escapou da traição.
Isso é o que eu mais abomino e detesto.
Da mulher, do amigo, do sócio e do irmão
Esse é o pior, o mais covarde e terrível gesto.

Não há defesa que seja possível na traição.
Tudo é feito às escondidas, nada é honesto.
E o traído é sempre o último a saber da ação.
É a lei do cão e o fim quase sempre é funesto.

Tem gente que mata, manda matar ou desiste.
Mas também tem quem perdoa, aceita e persiste
Seja como for, deixa sempre um rastro de rancor.

Trair sinaliza com precisão o fim do amor
Da amizade, do respeito, do bom que existe.
É a morte dos sentimentos. Nada depois resiste.

Monday, October 08, 2007

Reflexão XXXII (o conselho)

Se conselho fosse bom não era dado e sim vendido.
Quantas vezes ouvi: vai por mim que quero teu bem.
Na verdade era só mais uma opinião de intrometido.
Com a idade aprendi a não dar crédito. Melhor viver sem.

Quem quer dar conselho, quer mesmo é se auto promover
Sobrepõe a experiência dele à tua e muito te subestima
É irritante ouvir: leva o guarda chuva que vai chover...
Como se fosse o todo-poderoso, o senhor de todo clima.

Detestando ouvir conselhos, aprendi também a não dar.
Se me pedem uma opinião, prefiro dizer que, olha, sei lá...
Não corro o risco de ouvir: fui na tua e olha aonde vim parar.

Conselheiros profissionais discutem o que aprovado já está.
Pelas necessidades naturais que a própria vida determinar,
É assim que sigo minha trilha, indo em frente, até onde dá.

Friday, October 05, 2007

Reflexão XXXI (o trabalho)

O trabalho é uma necessidade e castigo divino, culpa do Adão.
Mas é o meio de sobrevivência e o maior problema é ter patrão
Você fica sempre sobrepujado, deve ser obediente e servil
Sendo que a maior vontade era mandá-lo à puta que pariu.

Tem um antigo ditado que ouvi e que acho perfeito:
Quem trabalha pra pobre pede esmola para os dois.
Mas mesmo trabalhando pros ricos percebi o efeito
Quando tem muito é só do patrão, a falta é dos dois.

Na teoria Marx foi ingênuo. A greve prejudicaria o patrão.
Mas no capitalismo, manda quem tem capital e cria a lei.
Ficou proibida a greve e o trabalhador perdeu sua razão.

Minha revolta não é por trabalhar, mas por servir um “rei”.
Escudado na crença de que é empresário e bom cidadão,
Ele te esfola, traça metas, oprime. Isso eu vivi, senti e sei.

Reflexão XXXI (o trabalho)

O trabalho é uma necessidade e castigo divino, culpa do Adão.
Mas é o meio de sobrevivência e o maior problema é ter patrão
Você fica sempre sobrepujado, deve ser obediente e servil
Sendo que a maior vontade era mandá-lo à puta que pariu.

Tem um antigo ditado que ouvi e que acho perfeito:
Quem trabalha pra pobre pede esmola para os dois.
Mas mesmo trabalhando pros ricos percebi o efeito
Quando tem muito é só do patrão, a falta é dos dois.

Na teoria Marx foi ingênuo. A greve prejudicaria o patrão.
Mas no capitalismo, manda quem tem capital e cria a lei.
Ficou proibida a greve e o trabalhador perdeu sua razão.

Minha revolta não é por trabalhar, mas por servir um “rei”.
Escudado na crença de que é empresário e bom cidadão,
Ele te esfola, traça metas, oprime. Isso eu vivi, senti e sei.

Wednesday, October 03, 2007

Reflexão XXX (a feijuca lite do Barão)

Esta receita sempre fez sucesso no castelo.
Parte do segredo dos ingredientes revelo:
Para dessalgar as carnes salgadas escaldo
Em água com sal fino. E, do feijão, reservo o caldo.

A feijuca tem o melhor do porco, pimenta e paio
Preparo durante as manhãs de sábado assim:
Feijão preto cozido e refogado com cebola e alho
E ainda as carnes têm ordem de cozimento sim

Primeiro a carne sêca e a orelha, depois
A costela e as lingüiças entram na panela
Laranja e salsão moído: acrescento os dois.

Frito os torresmos com calma e cautela
Refogo a couve na gordura que ficou, pois
É dali que sai o sabor sem igual que apela.

Tuesday, October 02, 2007

Reflexão XXIX (a nudez)

Curioso seria se todos andassem pelados.
Nudistas urbanos, iguais a índios selvagens.
O corpo exposto, todos os pontos revelados
Sem modas, apertos, só marcas e tatuagens.

Muito divertido imaginar ambientes tumultuados
Completamente impossível não pensar em sacanagens.
Uma imensa avalanche de pensamentos degenerados
Achando tudo possível em descaradas libertinagens...

Mesmo assim seríamos mais civilizados...
A diversidade humana sem falsas embalagens.
Feiúras e belezas, bundas e seios turbinados

Monstros de pesadelos ou lindas personagens.
As almas, habitantes de seus corpos venerados,
Lembrariam que as vidas são feitas de passagens.

Monday, October 01, 2007

Reflexão XXVIII (tatuagem)

Tatuagem é uma dor que não se apaga.
É marca epidérmica que fere, depois afaga.
Uma parte do corpo de onde a alma verte,
Uma parte da alma que o corpo reflete.

Arte que revela em tinta ou essência
A homenagem a um amor extremado
Por si mesmo ou outro ser endeusado
Que perdura mesmo depois da desistência.

Marca do passado que é pra sempre
E vai insistir em longa convivência
No espelho, ou alguém que te lembre.

É um sinal assim mesmo, seja como for.
Que define, delata, confirma a referência:
Algumas almas só afloram com a dor.

Thursday, September 27, 2007

Reflexão XXVII (o serpentário)

O mundo, para o poeta, é um verdadeiro serpentário.
Pra onde ele se vira tem sempre alguém querendo fodê-lo.
Não bastasse o banco que cobra juros e lhe arranca o pêlo
Ainda aparecem uns filhos da puta só pra aumentar o calvário.

Anda a pé e atravessa, cuidadoso, na faixa de segurança.
Tolamente acredita que ali está seguro e segue andando.
Mas o cara da bicicleta não respeita o sinal e avança
Quase o atropela, dá um susto e ainda sai xingando...


O condomínio manda carta mal educada cobrando
Uma conta que já foi paga. Não acham o registro.
Se não provar que pagou vão continuar debitando.

E assim, as “instituições” seguem sempre mandando.
A culpa é sempre dele em qualquer processo sinistro
E, pra piorar, tem sempre alguém da vida dele cuidando.

Wednesday, September 26, 2007

Reflexão XXVI (a saudação)

(Texto lido no Sopa de Letrinhas do Clube Caiubi)

Salve sonoro Clube Caiubi de Compositores!
Reunião escandalosa de talentos muito raros
Admiro as canções e peço licença aos senhores
Pra vir aqui mostrar os meus textos tão ralos.

Vou contar que, com suas canções, faço sucesso.
No violão toco de “Cisco no Olho” a “Pede pra Cagar”,
Em círculo restrito, é claro, só pros chegados, confesso.
Os camaradinhas curtem, elogiam e cantam sem parar.

Muito obrigado pela recepção, pela festa e pela paciência.
Aos meus parceiros Sonekka, Zé Edu Camargo e Nando Lee
Que, de verdade, profundamente, agradeço a existência.

Vlado Lima, Lis Rodrigues e todos cujas canções eu já ouvi
Minha vontade era de ter nascido com a mesma inteligência
Mas cada um, cada qual. E festa igual a essa eu nunca vivi.

Tuesday, September 25, 2007

Reflexão XXV (os vícios)

Já fumei, não fumo mais.
Cigarro, charuto e do bom.
Comi chocolate e bombom
Cheirei, não cheiro mais.

Sei que bebo demasiado
Desse ainda não me livrei.
Mas, sendo dentro da lei,
Não me sinto muito obrigado.

O vício é apenas uma mania
Dependendo pode fazer mal.
Já fui viciado até em academia.

Quando é boa a sensação
Fazendo bem ou fazendo mal,
É muito difícil ter moderação.

Friday, August 24, 2007

Reflexão XXIV (as janelas)

As janelas do Reyex são pra olhar para onde?
O que procura o olho que espreita pela fresta?
Um campo, um lugar, a paisagem que se esconde?
Uma grande cidade, uma favela ou uma floresta?

Tanta interrogação, na verdade, não é necessário.
Em arte, como na vida, os fins justificam os meios.
É o que se imaginar, é pra ver e criar cenário.
Pode-se sonhar, viajar e perder-se em devaneios.

Um quadro, na parede, abre sempre uma janela.
Mas, o mais importante é o que ele abre na alma.
Descrevendo as cores da vida em nuances de aquarela.

A pintura é a arte do silêncio profundo, da cautela.
Fixa o olhar, esquece de tudo, procure com calma.
Vê só quanta vida e movimento existe numa tela.

Thursday, August 23, 2007

Reflexão XXIII (outros esportes)

O Poeta, todo mundo sabe, é São-Paulino doente
Mas nem só das glórias do tri-mundial segue a trilha.
Gosta muito de outros esportes e assiste contente.
O vôlei de praia feminino, por exemplo, que é uma maravilha.

As meninas da ginástica olímpica, tão pequeninas.
As super-moças do triatlo de muito fôlego e lindas.
Maratonas, saltos, basquete e todos os tipos de corridas.
As moças do nado sincronizado, tão graciosas ondinas.

Sonha um dia, numa bem sucedida encarnação futura
Ser piloto de fórmula 1, dos bons e com o fator sorte,
Porque sem ele, todos os esportes são uma loucura.

Já saltei de pára-quedas, não tenho medo de altura
Mas sou sem jeito pra outras atividades, não que isso importe.
Se não participo, assisto e torço. Esporte também é cultura.

Wednesday, August 22, 2007

Reflexão XXII (o futebol)

O Poeta, todo mundo sabe, é São-Paulino roxo.
O tricolor paulista, esteja como estiver é sua paixão.
Pra ele qualquer jogador de outro time é um coxo.
E quando tem jogo, gela a cerveja e liga a televisão.

Gosta de insultar, gritando alto, o vizinho corintiano
A cada gol que o time do Morumbi no adversário fatura.
O vizinho, coitado, irritado xinga, bate a porta e não atura
A festa que o poeta faz sendo campeão todo ano.

Mas nem só das conquistas do tri-mundial curte a glória.
Se perde o Santos, o Palmeiras ou o Corinthians fica feliz
E sai pra comemorar do mesmo jeito, igual a uma vitória.

No bar desacata e banca apostas na conquista do campeonato.
São poucos que encaram, no fim fica um que depois, some, o infeliz.
Se o São Paulo perde, a namorada me faz esquecer com o trato.

Tuesday, August 21, 2007

Reflexão XXI (os molhos)

Um bom molho é o sangue da alta comida
Assim é com a deliciosa galinha a cabidela.
Há vários outros, fantásticos dentro da panela.
O bechamel, o roti e o agridoce, dão sabor à vida.

O conhecedor gourmet sabe que o comensal
Do alimento deseja a textura junto com o sabor
Tempera tudo equilibrado, sem exagerar no sal
E capricha no molho cuidando inclusive da sua cor.

O que se vai comer tem que agradar aos olhos também.
Por isso, tem que combinar as cores na apresentação
Harmonizando os sabores com as cores, como convém.

O resultado, se bem feito, é uma obra de arte do além
Uma soma de prazeres visuais, olfativos e gustativos, então:
Tem que comer de joelhos dando graças e dizendo amém.

Monday, August 20, 2007

Reflexão XX (as comidas)

De todas as cozinhas, eu prefiro todas as comidas
Comida brasileira, francesa, italiana, japonesa
Sem distinção nenhuma, até comida tailandesa.
Exceção apenas a extremos gastro-suicidas:

Insetos, órgãos, vermes, carne humana...
Falo da comida normal, que a maioria aceita.
A preparada com carinho no calor da chama
E não aquelas cerimoniais de outras seitas.

Carnes, aves, peixes, massas, tortas e molhos
Dedico horas no preparo de uma boa receita.
Só pelo prazer de cozinhar o prato que escolho.

Os ruídos e odores da cozinha me dão alegria
E partilhar as delícias da mesa com a minha eleita,
Esse seria meu último desejo, depois feliz morreria.

Friday, August 17, 2007

Reflexão XIX (as bebidas)

De todas as bebidas, prefiro a cerveja
Que se encontra em qualquer esquina.
Loira, escura, preta e bem geladinha
Mesmo no frio, a vermelha, que seja!

Cerveja e mulher importa a temperatura, não a cor.
Em casa, no bar, na praia, beber só para relaxar.
Copo gelado cheio, espumante, chega a confortar
É hora de apreciar com calma, lentamente o sabor.

Xô coca-cola, bebida infame, veneno triste.
Cachaçinha e batidinha? Dá um tempo, desiste.
Aguarde uísque esnobe, conhaque senhorial.

Um salgadinho, porque não, ninguém resiste.
Uma bela perva sim e uma erva, já que insiste
A boa água mineral é a minha bebida no final.

Thursday, August 16, 2007

Reflexão XVIII (as frutas)

De todas as frutas, prefiro a manga.
Já escrevi isso em outros tempos.
E continuo preferindo, não menos.
Embora tenha chupado muita pitanga.

Adoro todas as frutas sumarentas.
Melancia, carambola, laranja e mixirica
O sumo doce na língua atormenta.
E a pálpebra, de prazer, tremelica.

Fruta não se come com talher
É uma ofensa à sua natureza.
Tem que tratar como se fosse mulher.

Lamber, chupar, morder com delicadeza.
Não deixar um pouco de caldinho sequer
Apreciar profundo, com desejo e com firmeza.

Tuesday, August 14, 2007

Reflexão XVII (os doces)

De todos os doces, prefiro o quindim.
Costumo evitar o açúcar, mas tem dia
Em que deixo a dieta que traz melancolia
E como cocada, pão doce e pudim.

Ah, o pudim de leite branquinho,
Lembra um seio doce e fresco.
A baba-de-moça e o beijinho
Despertam um desejo gigantesco.

Os fios de ovos, o dourado cabelo-de-anjo.
A maçã molhadinha de mel
Doce de leite moça e papo-de-anjo.

Assim viro um voraz chupa-mel
E todo meu dinheiro esbanjo
Finalizando com um vinho moscatel.

Monday, August 13, 2007

Reflexão XVI-i

Autoria: Sonekka

O Poeta , todo mundo sabe, não tem tempo
Não por fazer muito, só que afazeres complicam
E ele põe os versos numa fila e ali ficam
Esperando o danado pescar as palavras ao vento

E nem sempre da jogo, nem sempre consegue
Às vezes enrola de um jeito que fica impossível
E a frustração de não conseguir nele é bem visível
Mas lamenta-se mais um pouco e a vida segue

O que o poeta mais inventa é jeito pra não conseguir
Mas é ilusório que ele não faça o que a vida lhe pede
Difícil é que pra maioria, isso não cheira e não fede

Fácil mesmo é frustrar o poeta e quando tomba
O poeta chora, bebe, xinga e se desacorsoa
Pudera, ser poeta nessa merda não é assim àtoa

Reflexão XVI (as artes)

Ah, que inveja eu tenho do inspirado artista.
Eu, poeta bissexto, só crio a cada quatro anos.
E, bem olhando, os textos são puros enganos.
Medíocre como músico, um dia me disse: desista.

Deixei de lado a pretensão de ser guitarrista.
Agora, só em casa e sozinho é que toco violão.
Metido em artes, escrevo mais por compulsão
Nas Artes Plásticas, aí sim, sou maratonista.

Nas telas, usando cores ou no preto e branco
Nas tintas, têmperas, colagens e até com terra
Emoção estética de todos os materiais arranco.

Esse é o mundo: o que pintar, eu traço e desbanco.
Movimentado pela minha mão, o pincel não erra.
Todos os materiais, todas as mídias, a alma destranco.

Reflexão XV-i

Autoria: Sonekka.

Eu como poeta, sabe todo mundo,
Sou apenas um insignificante
Além de coxo e cambaleante
Ainda tenho talento vagabundo.

Se você que é um dileto letrado
Não conta sílabas e não metrifica
E eu de poeta? fazer como? Explica?
Em matéria de verso um pobre coitado.

Mas peraí, eu tenho dedos e imaginação.
Basta deixar a césar o que é de césar
E a minha parte é fazer canção.

Nisso eu não amarelo, sou craque
Sou zico, pelé, garrincha, ronaldo e
Romário, meio-campo, sem contar o ataque.

Friday, August 10, 2007

Reflexão XV

Meu soneto é muito controverso.
É de pé quebrado, um duro parto.
Manquitola desde o primeiro verso,
Até chegar, cansado, ao décimo quarto.

Até podia aprender, ler, estudar...
O Glauco Mattoso até mandou manual...
Mas tem preguiça e é difícil da rima achar
O par. E fica tudo muito superficial.

Mas consideremos licença poética
Elaborar tais pseudos sonetos
Sem dar muita bola pra estética.

O problema todo é da tal genética.
Deu-me pequeno talento, digno de inseto.
E também não me deu ouvido pra fonética.

Thursday, August 09, 2007

Reflexão XIV-i

Autoria: Sonekka

O Poeta acha que ninguém o vê
Que despercebe-se sua arte janota
Acha que só ele vê e ninguém nota
E os que estão em volta sabem ler

Sabem ler até o cú do poeta
Ainda que este esteja olhando o copo
Todos o vigiam feito coruja no toco
Sabem o que o poeta ébrio pensa

E nisso ele muda o olhar
O poeta peidando pra vida
Engolindo talagadas de cynar

Sua poesia nem cheira e nem fede
Levanta, chocoalha a cueca e outro por cima
ainda quando peida a platéia aplaude

Reflexão XIV

O poeta junto aos outros se sente sozinho,
Olha, observa todo mundo e ninguém o vê
Fica ali de canto na mesa do barzinho
Sem conversar, só bebendo e olhando a TV.

Nessas horas lembra de coisas já idas
De coisas boas que fez ou se arrepende
Todas sem conserto agora, perdidas
Sente que na vida o bom ou o ruim, depende

Mas e daí se ninguém lhe dá a mínima
Ele não liga, porque já tem a receita
E quando quer, desacata, rola e deita

Ah é? Todo mundo pagando de pinima?
Espera um pouquinho, faz um esforço e peida
Pronto, ninguém mais o ignora, só enjeita!

Reflexão XIII-i

Autoria: Sonekka

O poeta, todo mundo sabe, é doutrinador
Na verdade o que ele mais tem é adjetivo
Sobretudo quando atira verbos objetivos
Dele só não se adjetiva de racionador

O poeta quando produz, é o próprio dicionário
Folheia-se o poeta em busca de significados
Devora-se o poeta à procura de predicados
A ele se atribui a palavra como fiel depositário

Mas não se engane que o poeta é puro
Não pense você que o poeta não ferra
O poeta enquanto santo não erra, enterra

Não se iluda que o poeta é meigo
Ele pode ser cáustico e matreiro
Até mesmo quando louco e cego.

Wednesday, August 08, 2007

Reflexão XIII

O poeta, todo mundo sabe, é o corolário
Da cultura inútil que acredita ser erudição.
Vive de invencionices tolas e come ilusão.
Na vida real é mais um alienado fiduciário.

Lê e recomenda a leitura do reader’s digest
E mesmo que ninguém nele preste atenção,
Incomoda todo mundo sugerindo um teste
Quem sabe qual é a capital de Eisaquestão?

É uma besteira tosca, uma piada de poeta
A capital de Eisaquestão é claro que é Aíquestá.
E isso é tão engraçado quanto fazer uma dieta.

O poeta vive forçando a barra, a vida atesta
Tem até gente que foge de onde ele está
E quando diz que vai embora, ninguém contesta.

Reflexão XII-i

Autoria: Sonekka

O poeta, ele não acha, mas é falsário
Pega as impressões alheias e copia
Passa pro seu caderno como poesia
Depois guarda numa gaveta, vira relicário

O poeta esconde, enterra o verso
O poeta erra, descarta , falsifica
Destrata, afunda, afoga, danifica
E ao belo impõe efeito reverso

Mesmo com a rima marcada e feia
Como aquela ali no verso acima
O poeta não recua, soca a peia

O poeta dos papéis é o corsário
A dor despreza e pilha a alma alheia
Vida que só é feia pra quem é otário.

Tuesday, August 07, 2007

Reflexão XII

O poeta, só ele sabe disso, recebe confissões alheias
É um túmulo que guarda segredos escandalosos
Sabe da mulher que amarra o marido com correias
E do homem que se masturba chupando pés calosos

Coisas tão incríveis que contando pouca gente acredita.
Do velhinho que paga pra levar chutes no saco e urra
Do negão que adora levar dedada e de cacete, uma surra
E do executivo que chupa a boceta e o cú da cabrita.

Tudo isso lhe vem ao ouvido mesmo dos protagonistas
Escândalos financeiros, corrupção, roubos e desfalques
Contrabando, tráfico, execução de bandidos antagonistas

Ouve também das amigas putas, que debulham a lista
Contam rindo divertidas sem nenhum recalque
Nas noites de refúgio e alegria na cama do artista.

Reflexão XI-i

Autoria: Sonekka

O poeta, todo mundo sabe, é homenageado
O credor, o garçon, o locador homenageiam
Debulham-se em louros mesmo que não queiram
Se bem que homenagem é coisa de viado.

Melhor uma honra ao mérito do que ao féretro
Antes uma condolência do que a convalescência
O poeta mesmo no pódio tem muita ciência
De que artista colhendo em vida é muito raro

Mas se o chamam ao olimpo porque não ir?
Estará a platéia o esperando ansiosamente?
Ou estarão ao primeiro declame, prontos pra cuspir?

Mesmo assim o poeta vai, ainda que sem graça
Ainda que vá pra zombar e fazer arruaça
Poeta anônimo e esquecido não tem graça!

Monday, August 06, 2007

Reflexão XI

O poeta, todo mundo sabe, é refratário.
Por isso, procurou refúgio na série reflexão.
Não se conseguiu chegar a nenhuma conclusão.
Nem contra ou a favor, antes pelo contrário.

Repetiu sua ladainha e traçou seu itinerário.
Confessou suas manias e sua deformação.
Não quis desabafo, nem riso tolo ou comiseração.
Sequer desejou a tentativa de um documentário.

Quis homenagear o leitor, demonstrar erudição.
Escreveu mais por vício do que por precisão.
Viajando no tempo no sentido anti-horário.

O ping-pong com o Sonekka virou uma diversão.
Na verdade a vida do poeta é pura curtição.
Quem quiser, passa no blog e deixa comentário.

Reflexão X-i

Autoria: Sonekka

O poeta, o mundo sabe, é um plagiador
Sempre que lhe falta enredo
Apela pra algum Álvarez de azevedo
Ou, ledo e ivo engano, fala de amor

Tanto amor, tanto fogo se revela
No olhos negros do poeta enganador
Ainda mais ele copia a dor
Aspirando a alma da donzela!

E diz que era doce aquele seio arfando!
E diz dos lábios que sorriso feiticeiro!
Daquelas horas que lembrou-se chorando!

Mas o que é triste e dói ao mundo inteiro
É que todo mundo sabe que este soneto
É parte ele, e parte Álvarez de azevedo

Friday, August 03, 2007

Reflexão X

O poeta, todo mundo sabe, é depositário
De várias artimanhas de sedução.
Oscila de romântico meloso a canalha durão.
Rejuvenesce com conquistas, o cinqüentenário.

Melífluo, tem todas as cantadas decoradas
E, precavido, inventa mais outras de ocasião
Adora mulher, moças delicadas ou mulherão
Solteiras, separadas ou desquitadas.

Casadas, só como instrumento de vingança
Porque aí está prestando um serviço de consolo
E esta mulher nunca mora na vizinhança

Mas seu desejo é ser das putas empresário
Pra dormir de dia refrescando o miolo
E de noite, do puteiro, ser beneficiário.

Thursday, August 02, 2007

Reflexão IX-i

Autoria: Sonekka.

O poeta, isso você não sabe, é um propedêuta
Finje que não sabe mas guarda o saber profundo
Manja Nietzshe, Marx, krishna, Jung, muda o mundo
Mas na verdade só vive pensando em buceta.

O poeta não se desliga de nenhuma namorada
A primeira, a melhor, a mais fogosa, a maluca
A crente, a puta, a bandida, a fedida, a varrida
Eternizadas em poemas pra mulher amada

O mesmo vale para cada amigo
Seja em verso, seja em pinga
Com o poeta há sempre abrigo

Mesmo que alguém não o entenda
Com poeta não há transgressões
Jamais ele excita a contenda

Reflexão IX

O poeta, todo mundo sabe, é incendiário.
Põe fogo no rabo do gato e atiça a discussão.
Alimenta-se da cizânia numa espécie de ração.
E de idéias inventivas e contrárias é doutrinário.

Por exemplo, jamais aceitaria ser celibatário.
Mesmo sabendo que a mulher fala sem razão.
Ele compensa mijando também sem por a mão.
E com isso arregimenta outros correligionários.

Dos amigos artistas é um concessionário
Com o trabalho deles faz um grande alarde.
E das artes alheias é um feliz discotecário.

Mas é assim mesmo, embora muito tarde
Que o poeta se mostra o fiel depositário
Do fogo que no coração de outros arde.

Wednesday, August 01, 2007

Reflexão VIII-i

(Autoria de Sonekka)

O Poeta, não sei se você sabe, é um canalha
Nenhum ofício, ocupação ou algo que o valha
Olha para qualquer mulher e diz que é boa
Pra comer se põe a tecer loas e mais loas

O poeta sofre de silêncio e solidão
Mas vive de barulho, bebida e confusão
Quando ama se entrega no ato
Quando perde serve-se aos ratos

Dizem até que não escreve mal
Outros dizem que nunca escreveu
Mas é fato; o poeta é um manancial

Sabe-se lá o que será do poeta
Uns o tarjam de demente
Outros o tratam como profeta

Reflexão VIII

O Poeta, todo mundo sabe, cumpre seu horário.
Sai do bar do João e vai pro bar da Adelaide.
Na Galeria AD Moreira onde é comensal honorário
Do churrasco e outras iguarias preparadas pela Aidê.

Lá a freqüência é outra: são lojistas em maioria.
E tem que ter paladar, saber cozinhar e conhecer
Receitas e temperos gourmet pra ser da confraria.
Toda quarta-feira é servido um prato de não esquecer.

Mas não é só isso: a Galeria vira uma passarela
Com as meninas que saem do trabalho no shopping
E passam, lindas e bem arrumadas, animando a galera

Às 23 horas a Galeria fecha e a diversão já era.
O poeta vai pra casa e sua noite chegou ao fim.
Lê um pouco e vai dormir olhando o céu pela janela.

Tuesday, July 31, 2007

Reflexão VII-i

Autoria: Sonekka.

O poeta, no que consta, é um tonto
No boteco onde bate ponto
Todo mundo reclama
Enquanto o tonto declama

Então desiste do verso e bebe
Aí sim profissional de respeito
Segui-lo nos copos ninguém se atreve
Talagadas e talagadas de despeito

Ninguém decifra o poeta
Porque no fundo todo mundo sabe
Que ele está onde não cabe

Uns o chamam de belo,
Outros chamam de covarde
O poeta diz, mas não faz alarde.

Reflexão VII

O poeta, todo mundo sabe, é o usuário
Do banquinho da ponta do balcão
Todos os dias, no mesmo horário,
18 e 45 no bar do João.

É lá que bebe cerveja depois do trabalho
Ao lado de vagabundo e trabalhador
Pedreiro, traficante e quebra-galho.
E “Gibi” que é profissional tatuador.

Sardinha é o cara que serve a cachaça
De olho na rua, avisa quando a gostosa passa
Nas mesas rola jogo de dominó e carteado

Sábado tem rifa de costela e frango assado
Enquanto a carne gira, cheira e assa
A gente mexe com a mulherada que passa

Monday, July 30, 2007

Reflexão VI-i

Autoria: Sonekka

O poeta, todo mundo sabe, é um enganador
Engana-se a si mesmo na ânsia de desabafar
Ainda sonha o que seu desabafo vai causar
Não ata e nem desata os nós de criador

Todo hora é a mesma ladainha
È o relógio cuco da própria solidão
Todo dia murmurando no espigão
E se auto repete feito a avezinha

Mas nunca faz nada em vão
Atrai os louros de outros lamentos
De outros tantos que lamentarão

O poeta é um ser fantástico
Quando a platéia se identifica
Ele solta seu riso sarcástico

Reflexão VI

O poeta, todo mundo sabe, é um operário.
Espreme os miolos no trabalho de escrever
Mas suas idéias não lhe trazem numerário
Parece que nasceu criativo só pra sofrer.

Todos os dias acha que perdeu a inspiração
Só porque às vezes não lhe ocorre idéia.
Desanda a escrever mais por transpiração
Porque sabe que quantidade faz epopéia.

É um ofício duro, solitário e sombrio
Não atrai fama nem fortuna fácil
Só clausura em longas noites de frio.

Vez ou outra alguém elogia o pancrácio
Que todo se estufa fingindo um fastio
E pensa até que é o “Barão” do palácio.

Friday, July 27, 2007

Reflexão V

O Poeta, todo mundo sabe, precisa de vocabulário
Para expressar de forma acurada suas idéias
Por isso lê enciclopédia, bula de remédio e dicionário
E vai animando os inanimados em prosopopéias.

Explicita palavras que a média não usa
Em sílabas contadas, rimadas ou não
Trilhões de vezes das hipérboles abusa
Mas prega procura por parar com a aliteração.

Nos textos, figuras caras como a elipse
Vai escrevendo os escritos nos pleonasmos
Rei das palavras, busca o gênero na silepse.

Busca pela síntese da antítese na anáfora
Busca assonância, busca consonância
E faz de tudo uma grande metáfora.

Wednesday, July 25, 2007

Reflexão IV

O Poeta, todo mundo sabe, é o adversário
Preferido dos executivos no escritório
Só porque o cara, sendo funcionário,
Gasta tempo produzindo texto masturbatório.

Vai trabalhar ô poeta bobo sonhador!
O chefe já te olha como despesa
E mandou vasculhar teu computador
Pra ver o que tu fazes na empresa.

Vai. Larga essa compulsão idiota!
Vai fazer algo mais produtivo,
Pra pagar o que deve ao agiota.

No competitivo ambiente corporativo
Não há lugar pra essa arte canhota.
Nem pra teu comportamento abusivo.

Tuesday, July 24, 2007

Reflexão III

O poeta, todo mundo sabe, é um perdulário.
Sempre gasta muito e ganha pouco.
Em “merrecas” se conta seu salário.
E deixa o gerente do banco feito louco.

Também! Quer viver de sua escritura!
No Brasil, que não dá bola pra poesia.
Melhor faria se arrumasse uma sinecura
No governo, onde dinheiro fácil é primazia.

Seria preferível que tivesse outros talentos
Bom de bola ou cinismo de político
Assim trabalharia pouco e ficaria rico.

Mas que nada, vive cheio de tormentos.
O futuro não lhe traz bons alentos,
E a vizinhança, dele, já faz fuxico.

Monday, July 23, 2007

Reflexão II

O poeta, todo mundo sabe, é um ordinário.
Acorda tarde, não faz a barba,
Compra fiado, vive de rebarba,
Peida fedido e bebe pra caralho.

Da vida não sabe nada e baba
Com as modelos da Fashion Week
Trancado em casa bebendo catuaba
Só sai pra ir ao velho alambique.

É um banana que escreve muitos
Poemas que só ele acha sentido
Todos bobos, bestas e gratuitos.

Vive desse jeito, vendo filmes pervertidos
O tempo passa e seus escritos,
Sem quem leia, são todos esquecidos.

Friday, July 20, 2007

Reflexão I

O Poeta, todo mundo sabe, é um otário.
Escreve todos os dias e não aprende.
Quer receber, dos textos e contextos, salário
Numa graforragia que a muitos ofende.

Mas não é ninguém. Não é nada.
Sem a pessoa principal da história:
O leitor, que de forma concentrada
Lê seus escritos e busca na memória,

Suas recordações, passadas ou pretendidas
Bem diferentes das do poeta, coitado,
E, ao texto, enriquece com suas emoções sortidas.

O poeta acha que a arte é sua, equivocado.
Mas é do leitor a criação, as imagens vívidas.
Essa é a verdade nua e crua, seu iletrado.

Monday, July 16, 2007

Ponto Cego

Eu respiro um azul incolor
Que, na escuridão do meu corpo, vibra meu sangue
Vermelho sem luz, negro.
O Sol ilumina o marrom da minha íris
Injetando um universo de cores
Todas distintas, graduadas ondas vibrantes,
Que eu vejo no meu jeito único de decifrar...
Mesmo de olhos fechados.

E sei que o sonho do cego é colorido
Glauco Mattoso me disse.

Tuesday, July 10, 2007

Roteiro

De manhã, seis e meia, pé na areia.
Ida e volta até o canal 6...
Ouvindo o mar, vendo a loirinha, a portuguesinha
A personal, Mara...
Depois, banho e a pé pro trabalho.
Almoço em casa.
À tarde, quinze pras sete, no bar do João, sai bolinho de bacalhau.
Quentinhos. Como uns 4 com pimenta.
Refrigero com cerveja...
Depois, Galeria AD Moreira.
As saideiras da Adelaide:
Meninas que passam, saindo do trabalho no Shopping.
Já é noite, vou pra casa.
Privar comigo mesmo minha solidão...

Wednesday, July 04, 2007

Na Trave!

Melhores que as mulheres, eu sei que não.
Vestidas são lindas garotas muito perfeitas.
Enganam e desfilam, no sexo, uma ilusão.
Nuas, destransformam e, no detalhe, são desfeitas.

Um amigo piadista imaginava “vantagens” das piranhas:
Não têm TPM, não menstruam, trocam o pneu do carro.
Ajudam na briga, saem na mão, dão porrada e tiram sarro.
Fazem serviço pesado e, de noite, dão o cú sem manhas.

Deixemos de lado o triste preconceito mofado!
Nasceram homens, mas resolveram ser mulheres...
Se a natureza não permite, por outro lado,

Eles não estão nem aí pro eleitorado
Emprestam do lado feminino os caracteres,
E saem por aí, torcendo pro “timão” adoidado...

“timãããooo, ê, ô...”

Tuesday, July 03, 2007

Pegada

Gosto de judiar um pouco.
Pouquíssimas reclamam.
E reclamam baixinho, com dengo.
Algumas confessam gostar, depois, rindo.
Outras ainda pedem mais e xingam...
Pra isso, não se pode dar receita.
Quem sabe, vibra com forte emoção.
Sabe por intuição.
Quem não sabe, humilde, pede pra aprender
De quem ama e aprecia sofrer com tesão.
Precisa ter sensibilidade.
E sensibilidade precisa.
Atenção num carinho especial.
Diferente e mais intenso.
Mais profundo e ardente.
Para não ser só mais um outro igual que passou,
Sem deixar marcas.

Monday, July 02, 2007

Sabores que aprecio.

Minha cerveja cheia, coberta
De mosquitinhos cachaceiros,
Não dá pra dispensar, já aberta,
Espanto e bebo tudo sem rodeios.

Mosquito de cerveja é cerveja.
Assim também é com a goiaba.
Como a fruta, bebo a cerveja
E o álcool limpa a minha baba.

Boceta eu gosto de chupar
Não há sabor capaz de igualar
Mas aí, não misturo a iguaria

Nessa hora me concentro pra apreciar
E não aceito intruso no par,
Nem numa grossa putaria.

Friday, June 29, 2007

A Teoria

Tua alma exposta, uma ferida aberta, frágil, fácil, flor.
Raízes estendidas, procurando de onde sugar a vida.
Com o espírito agitado, assim é que te pressinto:
Um caldeirão fervendo num fogo que não queima.
Fina borboleta arrogante que voa alto.
Indefesa mas inalcansável, seduz, virtual e virótica.
Tua arma mais letal: ser mulher.
Origem das vidas, útero que venero.
Bruxa incongruente, ventre aconchegante que espero.

Thursday, June 28, 2007

Chove não molha

Eu rezo pra que chova na minha horta.
Pra tirar a barriga da miséria
Pra deixar de ser um mosca-morta.
Pra achar um lugar ao sol
Tomar cerveja, pescar sem anzol.

Eu rezo pra que chova em minha horta.
Mudar de casa, ter um carrão
Namorar uma gostosa que me chame de tesão.
Ter muita grana, comer a mulherada
Quero viajar de navio e avião
Comprar uma guitarra e um novo violão.

Wednesday, June 27, 2007

Calçada

Na calçada estou à margem da rua onde rodam os carros.
É aqui que piso meus passos sobre desenhos diferentes:
Ondas, mosaicos, quadrados e... bosta de cachorro.

A calçada tem ilhas de árvores, longarinas de arbustos,
Mas tem as guias rebaixadas e os carros podem passar
Cruzando meu caminho.

Sou frágil pedestre e ando na calçada, meu reduto.
Minha aventura é atravessar a rua.
Vou mais lento, mas sempre chego aonde vou.

Monday, June 25, 2007

Meu Pai

José Pereira. Sergipano. Boa Gente.
Pai que me foi apresentado. Meu pai de alma.
Pai. Pra sempre. Meu querido pai.

Paciente com a minha mãe.
Entre tantos Zés na família, o Zé da Nadir.
Ajustador Mecânico, profissão que garantia nossa vida.
Trabalhava de macacão e me queria médico.

Destruí a bicicleta dele, batendo contra um muro.
Tenho as cicatrizes... Foi na Mooca.

Pro Pereira não tem tempo ruim
84 anos, osteoporose e hipertensão
Ainda toma a sua dose e capina o chão.

Thursday, May 24, 2007

Breve Biografia

Meus pais quiseram ser proletários
Mas se danaram
Porque eu dei errado na vida.
Eles investiram e me deram estudo e educação
Acredito que o erro foi terem me ensinado ética e honradez
Respeito e dignidade.
E eu cresci acreditando em valores morais.
Esqueceram de me ensinar o valor do dinheiro
Que tudo compra, permite e conquista.
Inclusive amor sincero...
Fui besta acreditando em amizade e amor
Criticando os ricos, contrário a eles.
Irremediávelmente ingênuo, crente.
Acabei assim. Sem dinheiro.
E, sem dinheiro, sem amigos e sem amor.
Mas, quer saber? Foda-se.

"Nada estabelece limites tão rígidos à liberdade de uma pessoa quanto a falta de dinheiro"
- John Kenneth Galbrai

Wednesday, May 16, 2007

Ninguém morre disso.

A Paixão, a felicidade e o amor são gerados pelo cérebro, ilusões.
E têm um tempo para acabar...
E quando acaba, temos de viver a infelicidade até que desapareça.
Não se pode fugir da dor.
Depois de um tempo, a dor passa.
É temporada de temporais.
Depois, tempo esgotado, final dos tempos.
O jeito é procurar outro amor que o tempo desgaste mais devagar.

Wednesday, May 02, 2007

Muito fácil

É noite e chove muito.
Sozinho tento ler um livro,
mas o ruído da chuva me distrai e leio sem ler
até parar e olhar os azulejos da parede em frente por muito tempo.
Pra mim é muito fácil esquecer...
Fico dividido entre a trama do livro e minha vida
Nesta noite insone e chuvosa, lembrando do que li,
lembrando do que vivi.
Embora, para mim, seja muito fácil esquecer...
E, como tenho mais esquecimentos que lembranças,
Prefiro viver cada dia como ele se apresenta. E só.
É noite e chove muito...
Dentro de horas virá de novo o dia de amanhã.
Porque, pra mim, é muito fácil esquecer.

Tuesday, April 24, 2007

Inesperado

Sem aviso alguém te pára na rua.
Para o bem ou para o mal
Te roubam ou levam preso sem explicação...
Te seqüestram para um programa de televisão...

Pro inesperado, não tem preparação.
Parente do imprevisto, apenas acontece...

O inesperado está na esquina.
Num lindo sorriso da menina.
Na conversa séria do patrão.
No “passa a grana aí” do ladrão.

A gravidez da namorada...
Uma visita no domingo... uma herança...
A pedrinha não catada no feijão.
O peidinho que vira um cagão.

Inesperado...

Tuesday, April 03, 2007

Alívio

Pra mim a solidão é bem-vinda companheira.
É quando privo comigo mesmo, na trincheira.
Livre da presença incômoda dos entulhamentos
Ouvindo muito melhor meus pensamentos.

Com calma posso peidar sossegado...
Tirar a roupa na sala e andar pela casa pelado...
Tomar banho de porta aberta e cagar...
Deixar a mulher gritar na hora dela gozar...

Dono completo do meu ninho,
Agora só ouço barulho do vizinho...
E minhas coisas, finalmente, livres da febre,

Não tem mais quem as quebre...
Nem cinzeiro, copos, taças ou pratinho...
Xô podreira! Tchau chupinzinho!

Wednesday, March 28, 2007

Paradoxo

Há um encontro marcado no futuro.
Comigo mesmo mais velho.

Nesse paradoxo, eu seria
Um mesmo duas vezes diferente.

Isso, se eu aparecesse nesse encontro...

Mas acho que não vou dar as caras.
Prefiro me imaginar no futuro
E Lembrar de mim no passado...

Vindo a ser três diferentes...

No presente aqui e agora
Lembrando de mim num passado recente
Imaginando minha imagem no futuro
Mostrando as caras diversas
Num encontro improvável
Diferente no verso e no reverso
Nem novo, nem velho
Para-oxidado
Com o futuro marcado...