Wednesday, December 31, 2008

Reflexão LXXXII (a entropia)

Você não pode vencer;
Você não pode terminar empatado e;
Você não pode abandonar o jogo.

Vamos envelhecendo sem perceber.
Viver tem este custo, muito justo.
Ninguém escapa de um dia falecer.
Talvez de bala ou, então, de susto.

Se me fosse dado o poder de escolher,
Preferiria morrer dos meus excessos.
Por ter amado intensamente a mulher
E ter querido, da arte, todos os sucessos.

Tudo que existe se desgasta e acaba, fim.
Assim é a natureza e é bom que seja assim.
O amor finda. Deixa de existir quem se deseja.

Sem amor, desaparece aquele que verseja.
Nada se pode fazer, o universo todo é assim.
O consolo disso é que tudo termina no fim.

Tuesday, December 30, 2008

Reflexão LXXXI (a sinceridade)

Nem sempre falo o que penso.
A maioria das vezes reflito bastante,
Mas não falo. Deixo suspenso.
Este é meu jeito mais constante.

Sinceridade demais nunca agrada.
Se for pra elogiar, pode parecer falso.
Pra criticar, é melhor a boca calada.
Desta forma não crio nenhum percalço.

Da minha vida particular, nada realço.
Dela tenho eu que cuidar e mais ninguém.
Só eu sei aonde aperta o sapato que calço.

Escolho bem as palavras, com todo cuidado,
Porque sei o imenso poder que elas contém.
Muita sinceridade pode te deixar enredado.

Monday, December 22, 2008

Reflexão LXXX (nosso natal)

Nosso Natal é bastante diferente...
Papai Noel muito agasalhado
Nesse verão extremamente quente,
Fica suado e acaba mal humorado.

Trabalha para a loja comercial
Tocando sineta e anunciando
Mercadorias em ofertas de natal
E a molecada de rua afastando...

Os indultos e os assaltos crescem:
Bandido e sociedade se merecem.
A hipocrisia aflorada libera o ladrão.

A voz no telefone pede colaboração
Os exploradores não esmorecem...
E da solidariedade alheia se abastecem.

Friday, December 12, 2008

Reflexão LXXIX (o meu amor)


Sou órgãos e eventos
que me perfazem e identificam:
Meu corpo.
Minhas iris.
Minhas impressões digitais.
Meu nascimento.
Minha morte que virá.
O meu cheiro...
Os sonhos que sonhei
E que não me lembro...
Impressões que se acumulam
Em minha memória insondável
E me fazem ser assim como sou...

A vida que tenho.
Outras vidas que tive.
Vidas que anexei.
Vidas que amei...
Meus desejos expressos e contidos.
Meus erros que se acumulam...

E esse amor profundo, imenso e perfeito,
Que tenho por mim mesmo.

Wednesday, December 03, 2008

Reflexão LXXVIII (esquecido)

Nós nos conhecemos há muito tempo.
Você é que não lembra.
Você já foi princesa
E eu o seu herói.
Você já se matou de amor
E depois eu me suicidei.
Você foi a mais bela da terra
E eu te raptei.
Com um beijo,
Fui eu que te acordei
De um sono encantado.
Na imensidão do tempo
Persegui a sua vida preciosa.
Você permaneceu na minha memória
Mas deixei de existir para você.
Fui esquecido...

E agora, você fica aí
Na mesa desse bar,
Me olhando curiosa,
Querendo saber quem eu sou...

Wednesday, November 05, 2008

Reflexão LXXVII (homem indolor)

Para Silvia Mendonça

"Em minha vida de poeta, nenhuma mulher que conheci foi igual. E eu, homem sem nexo, nunca deixei de causar dor. De machucar um pouco por prazer. De querer demais e depois desprezar. Fui muitos homens no tempo. Encontrei vários amores improváveis. E todos eles já não existem mais."

Monday, October 27, 2008

Mulher de Escorpião


para Van Luchiari

Foi vasculhando
Nos meus escombros
Nas minhas ruínas
Nos monturos da minha casa caída
Que descobri teu ninho.
E, sem cuidados,
Sem pressentir o perigo,
Ingênuo,
Expus minha alma
À tua proximidade.
Vitima do teu fascínio
Senti a fisgada
E provei
O extremo prazer
De morrer do veneno
contido no teu rabo.

Wednesday, October 22, 2008

Reflexão LXXVI (o galo)


Eu tinha uns seis, sete anos... na época era comum comprar frango vivo nas feiras. Jurássico isso... e, não sei porque, acabei ganhando um pintinho de presente. Amarelinho, piando o tempo todo.
Foi embalado pelo vendedor num saquinho de papel pardo perfurado à faca para o bichinho poder respirar. Lembro de levar o saquinho com o pintinho piando dentro dele, cheio de cuidados, de mãos dadas com a minha mãe, voltando da feira. Ao nosso lado o carregador de feira, com as compras dentro de um carrinho tipo baú de madeira e rodas de rolimã, fazendo um barulho metálico sobre as calçadas de cimento. Um frango adulto ia sobre os pacotes, embrulhado num cone feito de jornal, com os pés atados numa cordinha, olhando com seu olho vermelho para todos os lados, com o bico aberto e a língua de fora. Em casa, minha mãe costumava matar os frangos destroncando o pescoço deles. Pegava pelas pernas, deixando o bicho de cabeça para baixo, segurava firme a cabeça e torcia o pescoço umas duas ou três vezes e depois o esticava com força sobre a sua coxa até estalar. Pendurava o frango se debatendo num gancho do quintal e ia cuidar de ferver água enquanto o frango morria. Punha o frango morto na pia, regava com água fervente e ia arrancando as penas, depois eviscerava, cortava aos pedaços, lavava e punha pra cozinhar com batatas e coentros. Eu acompanhava todas essas etapas porque tinha que ajudar, enchendo a panela de água, recolhendo as penas e as vísceras e embrulhando em jornal para jogar fora, antes que as moscas dominassem o ambiente. Nesse domingo, meu pintinho ganhou uma caixa de sapatos para morar. Tinha água e quirela. Mas, o danado não se contentava em ficar na caixa, se esforçava pra sair e piava constantemente. Resolvi deixá-lo livre no quintal, colocando a caixa de sapatos virada sobre um dos seus lados com a água e a comida à disposição. O pintinho ficou parado um tempo, depois, piando menos, saiu ciscando o quintal de terra e comendo bichinhos invisíveis para mim. Passei o domingo brincando e observando o comportamento do meu novo amiguinho: o pintinho amarelinho. Durante as semanas seguintes, todos os dias, quando voltava da escola, procurava o pintinho e dava comida pra ele: folhas de couve, milho e um punhado de ração especial para frangos que eu conseguia com o dono da mercearia. Ele foi crescendo e ganhando novas penas, vermelho amarronzadas. Passeava majestoso pelo quintal, o pescoço altaneiro. Andava marcialmente, dando pequenas paradas a cada passo. Ciscava o chão, bicava e seguia andando. Era um galo adolescente agora. Eu fui me afeiçoando a esse bicho. Independente, elegante, intrépido. Até que num domingo, voltando de uma aula de catecismo, não vi o galo no quintal. Descobri, na cozinha, que meu amigo estava sendo cozido num borbulhante molho de batatas e coentros. Fiquei revoltado com minha mãe. Chorei. Quase tomei uma surra, mas tive respeitado o meu direito de não almoçar meu amigo. Meu pai, chupando os ossos do meu galo, dizia: Esse menino parece besta! Tá muito mimado! A hora que eu pegar ele de jeito... Na época criança não tinha querer. Era o último a falar e o primeiro a tomar pancada. O trauma infantil não existia. Tanto é verdade que estou aqui, no bar do português, com uma cerveja gelada ao lado e uma porção generosa de galo cozido com batatas e coentros. Ê vidão!

Tuesday, October 07, 2008

Coisas Efêmeras

(para Michelle)

Acabei de te deixar
e parece
que nem estivemos juntos.
O primeiro amor que fizemos,
tão bom e tão intenso.
Fiquei esgotado
Pelo resto do dia.
Te amei inteira.
Tomei posse
Do dragão na tua perna
Do golfinho na virilha.
Do anjinho nas tuas costas.
E tua boca imprescindível...
Mas minha memória
Prejudicada pelo álcool já,
Vai te dissolvendo,
Vai te transformando
Num passado bom,
fugaz,
ligeiro.
Quando, depois do bar, eu voltar pra casa,
Na hora de dormir,
Vou sentir
Teu cheiro de novo
Impregnado nos lençóis.
E farejando,
Cão abandonado,
Saberei que aconteceu.
Que não foi um sonho...

Thursday, October 02, 2008

O pagode da Brunella

Quem nunca foi, nunca viu
No pagode da Brunella
A Morena Bandida sambando
Alvoroçando a favela.

Rola cerveja e churrasco,
Galinha de cabidela,
Até vovó Nininha
Faz batuque na janela.

Bandida no meio da roda
Vai rebolando mexido
Quem veio estragar a festa
Foi a porra do marido...

Quem tava lá assistiu,
Quem não tava ouviu falar
O marido chegou com ciúme
Não deixando ela sambar

O couro comeu sentido
No lombo do vacilão
Não é porque é marido
Que vai pagar de alemão...

Bandida nem se abalou
Nem da roda saiu
Quando o refrão entrou
Foi aí que mais rebolou

Rebola, rebola Bandida
Rebola e arrasta a sandália
Tá me deixando maluco
Nesse seu tomara-que-caia.

Rebola, rebola Bandida
Rebola e levanta a saia
Maltrata meu coração...
Eu te encontro lá na praia.

Friday, September 19, 2008

Reflexão LXXV (sangue)

Quero fazer parte do teu sangue quente, pulsante de vida.
Sangue do teu coração que percorre teu corpo inteiro
E suspira fundo no ar dos teus pulmões, vibrante de vida.
Recrio um ciclo no espaço-tempo do meu mundo inteiro.

Meu corpo agora faz parte do teu, exausto e completo.
Vejo o movimento compassado do teu respirar calmo,
Meu amor, minha sagrada mulher, verbo do meu salmo.
Meu mar brumoso e incerto, de horizontes fugidios repleto,

Teu corpo que vibrou sob o meu abraço, agora lasso,
Confirma o meu destino inelutável, marcando o seu traço:
Mulher da minha existência que desde sempre amo tanto.

Agora dorme quieta, aconchegada nos tecidos, em seu canto.
Esquecida de mim em seu sono profundo, como um encanto.
E tua presença única me faz te amar, atando épocas num laço.

Thursday, September 04, 2008

Reflexão LXXIV (o espelho)




Eu te vejo meu reflexo.
Tu me vês refletido.
Ambos reflexivos.
Olhos nos olhos.
Uma reflexão:
Há luz que não se reflete.
Há luz que não se reflete.
Uma reflexão:
Olhos nos olhos.
Ambos reflexivos.
Tu me vês refletido.
Eu te vejo meu reflexo.

Wednesday, September 03, 2008

Seis de Setembro

Começo pelos seios,
Beijo teu ventre,
Lambo lindo clitóris.
Você me engole,
Num belo 69.

Poema com 69 letras (fora o título, acentos e pontuações)

Monday, September 01, 2008

Reflexão LXXIII (tarde demais)

(Para Andrea)

Ontem eu pensei em dizer, mas esperei hoje.
Hoje já chegou e agora é tarde.
É tarde, mas meu coração ainda arde.

Eu não quero te dizer que te amo.
Eu não desejo te dizer que te adoro.
Eu me recuso a dizer que sou louco por você...

Amanhã vai chegar e vai ser mais tarde
A semana vai passar e vai ser muito mais tarde
É tarde, mas o meu coração ainda arde.

Eu não quero te dizer que te amo demais.
Eu não pretendo te dizer que te adoro
Eu jamais vou dizer que sou louco por você...

Se a vida passar, vai ser muito tarde
Tarde, muito tarde
Tarde, tarde demais.

Pra dizer pra você que te amo
Pra dizer pra você que te adoro
Pra dizer pra você que agora é tarde demais.

Ontem eu pensei em dizer, mas esperei hoje...

Tuesday, August 26, 2008

Reflexão LXXII (as costas)

Desesperado, eu te amo mais, quando me viras as costas.
Quando te vejo ir embora e meu sangue se torna espuma.
Meus pés chumbados no chão, minhas ações descompostas.
Perder-te dissolvida na distância, meu coração desarruma.

O céu então desencadeia uma tremenda tempestade
E agora, a chuva põe ainda mais empecilho na distância.
Não bastassem o tempo e o espaço, somados à minha ânsia,
Tem também a tua decisão de ir, contra a minha vontade.

A chuva grossa de verão termina inundando toda a cidade
A luz acaba, os telefones ficam mudos e restamos ilhados
Imagino quais os caminhos que poderiam ser trilhados

Para ir te buscar e não deixar o meu amor pela metade.
Resgatar-te da fúria dos elementos e ficarmos aninhados.
Acariciando tuas costas macias, no escuro, enrodilhados.

Friday, August 22, 2008

Reflexão LXXI (o olho da solidão)

(para Rosangela Aliberti)

A solidão tem olhos que nos espreitam insistentemente.
São olhos baços, de cor furtiva, esmaecidos, lacrimosos.
Vazios de sentido, lembrando os olhos frios dos criminosos.
Não nos sugerem nada, apenas nos olham simplesmente.

Encaram firme nosso olhar de volta, adoram jogar sério.
São tenebrosos em certo sentido, por serem ablefaros.
A solidão costuma refletir os olhares que nos foram caros.
E esse olhar fixo, ininterrupto, incomoda como um mistério.

A solidão nos olha verrumando o fluxo da nossa alma
Estranhamente, isso inquieta, mas depois nos traz calma.
Porque nada pode ser feito para fugir do seu império.

Acostumar-se aos olhos da solidão é o melhor critério
Evitamos assim, lembrar o gesto da mão que espalma
Aquele adeus final, longínquo, marcado em nossa palma.

Wednesday, August 20, 2008

U DISTERRO

(Co’as divida discurpa pru Juó Bananére)

Ai chi sodade io tegno da mia gabital baolista!
Perque qüi niste disterro che io s’incontro
Vivo dirramano lágrima, pinsano nus amici chi io tigna
i tambê nas namurada que ficô lá.
Guando io era piquininigno io murava na mooca.
Na rua Juó Antonio di Olivera, pertigno du campu du Juventus.
E io custumava i co mio papá assisti us jogo nus dumingo di tardi.
Tudo cuntento da vida.
Oggi inveis io stó qüi pertigno du mare y mortigno di sodade...
In qüesto disterro, nista citá cotuba, mai che num é allegri come Zan Paolo.
Nê as pizza daqüi sono paricida co’as du mio chirido Bixiga dove io istudei.
Lá na Iscuola Superiore di Prupaganda Y Marcheti.
Qüi in Santos io sono cognecido come Barone, ma num sono Barone cosa nignuma.
È tudo mintira pra inganá us amici qui fiz aqüi.
Ma illos num s’importa guando io conto lorota.
Só sê che qüi io morro di sodade...
Me dá nostarggia e io pego i vô bebê umas birra c’os amici nu bar Du Galego.
Ô intó, vô tomá bagno di sol nas praia e paquerá as minina.
Êh paizá, maise io sono vecchio giá y ellas num liga per me.
Intó io di notte vô dançá nus baile di vecchia.
Dispois vorto pra casa i vô durmi.
Ma Che brutta sodade io tegno di Zan Paolo.
Dus mio amici e das namurada....
Che brutta sodade....

Monday, August 18, 2008

Reflexão LXX (os seios)

Os seios aparecem para ir transformando a menina em mulher.
Destacam a sensualidade feminina, trazendo um porte elegante.
Fonte de alimento e de amor, para o filho e para o amante.
Externos, próximos do coração para os amados, quantos couber.

Os seios são o primeiro contato de satisfação no mundo externo.
O primeiro alimento, o calor desejado, o essencial aconchego materno.
Em forma natural de maçã, pêra, melão ou com silicone, turbinado.
Possuem o poder especial de deixar o pai apaixonado e o filho mimado.

Textura e maciez especial que deixa marcada a memória da mão.
Da distante mulher amada, tenho ainda desse toque a sensação,
Trazendo à lembrança, o lugar, o momento, a paixão. Inesquecível.

E por expressarem assim tão flagrante o amor feminino, invencível
Essas obras de arte da anatomia feminina exercem profunda atração.
Seios mitológicos, encantamento de deusas, desnudos em libertação.

Monday, August 04, 2008

Reflexão LXIX (a reencarnação)

Num futuro distante, quando a humanidade estiver mais evoluída, a poesia terá então um status maior que o futebol hoje. O poeta vai ganhar muito dinheiro, viver em meio ao luxo e a riqueza, desfrutará de fama e notoriedade. Será aclamado pelo povo. Será cercado por lindas mulheres e homenageado por onde passar.
E nesse futuro glorioso, eu serei então a expressão máxima, serei o corolário, o visionário craque do enjeitado e esquecido futebol...

Wednesday, July 30, 2008

Reflexão LXVIII (Esse Viver)

Esse viver assim
É que me faz sonhar
Em um barco navegando
No profundo azul do mar

Lá para dentro da terra
Tem mistério mais fecundo
Que a humanidade no mundo
Nunca desejou a guerra

A vida me foi dada
Pelo criador do mundo
Tudo me foi emprestado
Eu devolvo num segundo

Esse viver assim
É que me faz amar
A força da natureza
Que eu respiro no ar

O sol ensina a vida
A nunca terminar
A semente quando morre
Já começa a germinar

Se Deus me fez assim
Posso desejar profundo
Criar no pensamento
Um novo Ser no mundo.

Friday, July 25, 2008

Meu Totem

Quem me visita, vê no pórtico de entrada da minha casa, o meu totem.

São imagens que descrevem em que acredito, no que estou comprometido e os juramentos que fiz.

Art é a primeira imagem. Porque sou artista. Escrevo, pinto quadros. Expresso minha sensibilidade.

A segunda imagem é o símbolo da Anarquia. Pode parecer estranho. Mas acredito na Anarquia em essência. Não nos significados impostos injustamente a essa utopia.

A terceira imagem é a de um cavaleiro templário. Fiz os juramentos da Tradicional Ordem Martinista. E a espada que reluz no altar se reverte na espada em cruz que recebi e trago na mão, obediente aos mandos da via cardíaca, sendo um homem de desejo.

A quarta imagem é o símbolo da maçonaria. Sou pedreiro buscando polir minha pedra bruta. Submetendo minhas paixões. Cavando masmorras ao vicio e erguendo templos à virtude.

A quinta imagem é a cruz rosacruz hermética. Prometi e recebi de volta a promessa que me emociona cada vez que relembro a voz do Mestre enumerando as recompensas do trabalho silente e reflexivo.

A sexta imagem é um hexagrama, circundado por 12 ohms nos triângulos criados, fechados em três círculos concêntricos, com meu nome no interior. Minha proteção cabalística.

Finalmente, a sétima imagem é uma escultura em ferro negro, representando a minha divindade do candomblé, Ogum, com sua guia de contas azuis escuras fechadas com uma pedra branca e dourada.

Há quem ache que não se coadunam os símbolos expressos por essas imagens, que são dissonantes entre si. Mas acredito em cada uma delas e acho que são complementares. A arte tudo engloba, pois a criação é universalmente divina. A opção pela anarquia é minha maneira de não ser conduzido, pelo menos enquanto homem em essência, alma livre, repudiando a submissão dos rebanhos. As três Ordens a que pertenço são caminhos similares e complementares. Minha busca pessoal da comunhão com o Cósmico Criador. O Deus do meu coração. O Grande Arquiteto do Universo. A Cabala, o uso prático da linguagem perfeita e maravilhosa dos símbolos, antigos e imutáveis porque expressam a Verdade. E minha divindade tribal é o corolário de minha condição de humano no planeta. Definindo minhas idiossincrasias com as características do Orixá. Ecce Homo.

Wednesday, July 23, 2008

Linha Ocupada

Sonekka & Reyex

Tudo o que eu queria ouvir era você chegar.
Mas o dia frio passou sem você me chamar,
O telefone nem tocou.

Ah, se for assim, eu não vou mais te amar.
Não vou mais te atender quando você ligar.
Eu finjo que não estou.

Mas, toda hora eu ligo pro teu celular
O sinal de ocupado me traz calafrio
Onde você está?

Vem depressa, apareça, que eu só quero te amar
Sou apaixonado e você vê, que tal me procurar?
Sem você, eu quero me matar
Sem você, eu acho que vou me render
Sem você, eu vou tomar chá de pirlimpimpim
Sem você, eu não sou mais que a sombra do que você vê.
Sem você.
Sem você.

Vacilona

Dm7 Bm7
Não, não me procure, você não vai me achar.
Dm7 Bm7
Você se acha esperta, tenta me enganar
Em7 A7
Tantas vezes eu quis te deixar....

Não, não me procure, você não vai me achar.
Agora é muito tarde pra se desculpar
Tantas vezes eu quis te avisar...

(voz) Estilo rap
(G)
Tomou nocaute vacilona,
Acabou beijando a lona.
Se liga agora mulher,
Para você não tem colher.
Se liga que a vida não é,
Como você pensa que é.
Se liga que a vida passa.
O que você faz é trapaça.
Eu acho é graça.
No pagode, qualquer neguinho te abraça,
Se liga no futuro,
Tu se amarra só em cara duro
Camelô, Gigolô.
Bandido cu de burro....
Não garante um teto
Meu papo é reto
Eu falo o que pinta,
Viajo a 130.
Acabou a emoção
Por você perdi o tesão.

Toma vacilona

Não, não me procure você não vai me achar...

Tuesday, July 15, 2008

Mané.

O nome dela era Maria Anita Jorge. Estudou comigo na USP. Anita era a mulher mais bonita da faculdade. Linda. Um sorriso de iluminar quarteirão. Um corpo mais que perfeito. Inteligente. Alegre. Foi capa da revista playboy no natal não sei de que ano.
Nua, de costas, olhando por sobre o ombro esquerdo, “vestida” com uma touca de papai noel e um saco vermelho no ombro direito que, acredito, ninguém notava, já que seus atributos eram incrivelmente muito mais chamativos que qualquer outra coisa. Antes da foto, porém, eu me apaixonei por ela. Ficava esperando ela chegar na lanchonete ao lado do restaurante do CRUSP para “casualmente” encontrá-la. Um dia, ela chegou chorando, reclamando de um namorado argentino que a tinha traído com um amigo nosso, o Marinho. Pô, que situação. Tentei consolá-la mas sequer imaginava o que dizer. Era estranho o fato do Marinho, quem diria, ter se relacionado com o namorado dela. Uma semana depois, mandei pra ela um poema e depois liguei dizendo que era apaixonado por ela.
- Puxa Reyex, que bacana o que você escreveu. Fiquei feliz. Bom esse seu sentimento por mim. Assim a gente pode se conhecer mais profundamente...
Ela, então, me convidou pra ir visitá-la num apartamento na Santa Cecília que dividia com mais duas amigas. Marcamos e no dia, com as mãos geladas e o coração aos saltos, fui até a casa dela. Perto de lá, parei num supermercado pra comprar uns bombons de presente. Acabamos nos encontrando no supermercado. Ela riu da coincidência e adorou os bombons. No apartamento dela, as amigas riam na cozinha. Depois, foram embora nos deixando a sós. Na saída, uma delas desejou boa sorte. Ela fechou a porta e nos sentamos numas almofadas no chão no canto da sala. Ficamos conversando, não me lembro o quê. Eu estava hipnotizado. Ela era bonita demais. Cheirosa demais. Maravilhosa demais. Tudo era demais. O tempo passou. Ela então, impaciente, me mostrou fotos dela, nua, numa praia. Fiquei sem ação. O tempo passou. Nada rolou. Ela fez um chá, tomamos e já era hora de ir pra faculdade. Eu querendo que o tempo voltasse. Saímos juntos. No caminho dei um abraço nela. Ela riu e disse: outro dia, com certeza. Depois, o destino nos separou definitivamente com uma longa viagem dela, de onde voltou casada com um médico. Só agora, depois de tanto tempo, tenho coragem de confessar o que não fiz. Se arrependimento matasse... Tempos depois a vi na TV Record como âncora num noticiário. Soube que ela teve uma filha que se chama Ceres... nunca mais consegui contato com ela. Nunca mais. Mané.

Tuesday, July 01, 2008

Reflexão LXVII (os braços, são eles)

Os responsáveis pelo seu abraço delicioso, são eles,
Que nos ancoram em nossas fúrias de paixão, são eles,
Tentáculos do amor que estreitam nossa intimidade, são eles,
Que atestam que estou envolvido por inteiro por você.
São eles que deixam você ao alcance das minhas mãos.

Monday, June 23, 2008

"Burajiro"


Por Osumaro Reiukussu.

Abençoados imigrantes japoneses. Pela mágica da ascendência, conheci minha pequena Midori Nagai. Perguntando por uma rua na Vila Zelina com um papel em sua mão escrito, acredite, “vira gerina”...Eu ri. Ela séria, quis saber porque eu ria. Linda. Cabelos negros compridos. Olho puxadinho, né? Burajirera, nè? Falou japonês a infância inteira. Aí que saudade que eu tenho da Midori, minha primeira namorada japonesa. Eu tinha 17 anos e ela 16. O pai dela não gostava muito de mim...cabeludo, tocando violão, pintando quadros...Mas Midori gostava de ficar comigo. Aprendi a comer sushi e sashimi com ela. Ela fazia e, pra me judiar, de vez enquando, colocava um pouco a mais de wasabi no bolinho de arroz só pra me ver lacrimejar... “chora por mim osumaru reiukussu?” ria ela.
Da praia em frente de casa, vejo a escultura imensa da Tomie Ohtake na Ponta do Emissário na Praia do José Menino.
Gestaltica pincelada magistral. Ondas vermelhas sobre o verde escuro da ilha urubuqueçaba.
Sábado passado, o príncipe Naruhito deu uma volta na ilha. José Menino, Boqueirão, Estrela, Terminal 14, no tempo fechado de inverno. A cidade ficou coalhada de marinheiros japoneses. Fizeram festa. Até no bar “pé-sujo” do João eles foram.
Beberam pinga com limão. Tomaram todas as marcas de cerveja. Compraram pranchas de surf. Tiraram fotos e foram assaltados pela mulecada da Quintino e do Canal 2. Deram mole. Estavam no Gonzaga, em Santos, no “Burajiro”
Cem anos da imigração japonesa. E minha saudade da Midori parece mesmo secular.
Por onde será que anda minha princesa oriental Midori Nagai?

Monday, June 16, 2008

Mais Velho

Sou mais velho. Não tenho culpa de ter nascido primeiro.
Mas o amor, parece, nasceu depois do teu nascimento.
Cheguei antes, ansioso, com urgência de te encontrar.
Sem poder contrariar a natureza fui vivendo e te esperando.
A culpa é tua que demorou mais do que devia, me castigando.
Na espera, tudo que aprendi foi para te oferecer finalmente.
Aguardei o destino nos aproximar, produzir o nosso encontro.
E agora, que te achei, depois de ter aprendido como bem te amar,
Tem essa coisa decepcionante de eu ser mais velho...

Aprenda que certas idades se equalizam com o tempo.
E nossas idades irremediavelmente diferentes refletem:
Um desequilíbrio tolo entre sonhos e lembranças.

Friday, May 30, 2008

Fotos Antigas

É solitário rever fotos antigas...
Fatos que foram vividos, que você revê agora,
E que nunca mais vão mudar.
As fotos se transformam em universos paralelos.
Um passado permanente viajando no tempo...
Nostalgia que causa uma solidão funda dentro da alma.

Não conheço a solidão por viver sozinho...mas por existir.

Mas a vida é repleta de fotos não tiradas, de filmes não realizados.
Lembranças do adiado...do não feito...do não vivido...
Momentos únicos no universo que nunca mais vão ocorrer de novo.
E este passado esquecido é a matéria da qual é feita a solidão especial, química:
Um poço escuro e profundo feito de silêncios acumulados.
Que não dá pra resolver com cachaça.

Thursday, May 29, 2008

Reflexão LXVI (a inteligência)

A inteligência feminina é muito especial, mais delicada.
Por isso, mais intensa e penetrante, mais intrincada.
Nunca analisa de maneira rasa, simples ou mesmo linear.
Vê por todos os lados e outros que a criatividade inventar.

É uma inteligência que até aceita ser enganada
Porque é estratégico que assim seja, não se engane.
E porque a mulher pensa assim, é privilegiada
Sabe de tudo, entende direito e quer que se dane,

Quem não entende o sentido inverso de seus nãos,
Os “nadas” que significam absolutamente “tudo”.
Na eloqüência de seu olhar, um texto forte e mudo.

A inteligência que sabe explicar por um gesto de mão,
Uma reticência, um silêncio, um brilho novo no olhar,
Dando novo sentido aos desdobramentos do verbo amar.

Monday, May 26, 2008

Reflexão LXV (a bunda)

Tanto já se falou dela que é redundância falar mais...
Tanto já se expôs, mostrou, fotografou e ainda assim,
Arrasta olhares nas ruas, causa furor, nunca é demais.
É a famosa preferência nacional, a desejada sem fim.

Textos, poesias e tratados foram por ela inspirados.
Da propaganda de cerveja, até pornôs especializados.
Fonte de fama e riqueza das celebridades emergentes
Vão se substituindo umas por outras mais recentes...

Mulher bonita, de bunda bonita, sendo esperta, fica rica.
Mesmo a mulher sendo feia, boa de bunda, é Raimunda.
Quem vê cara não vê bunda e vice-versa, diz a rubrica.

Nenhum apelido nomeia com propriedade esse atributo.
Sequer compêndios de anatomia explicam a dupla rotunda.
Dela resumiu Drummond “a bunda é a bunda, redunda”.

Tuesday, May 20, 2008

Reflexão LXIV (as orelhas)

Com brincos ou sem adornos, amo tuas lindas orelhas.
Nobres, apontadas pelas setas das tuas sobrancelhas.
Mapa do corpo nos pontos invisíveis da acupuntura,
Comportando o teu organismo inteiro em miniatura.

Concha acústica desenhada em ondas delicadas.
Alvo de todas as minhas declarações apaixonadas.
Passiva, recebendo os sussurros de minhas propostas.
Prometendo prazer, profundo e intenso, como gostas.

Acesso por onde meu verbo te incita e convence.
Onde a língua passeia úmida, atrevida e quente.
O epicentro do arrepio que te recobre a pele toda.

E desperta o teu desejo ardente, instintivo de loba.
Teu corpo todo, encostado no meu, reage fremente.
E todos os outros sentidos se aguçam incandescentes.

Friday, May 16, 2008

Reflexão LXIII (as coxas)

Como meus sonetos, o amor feito nas coxas,
Pode até parecer que seja uma prática ruim.
Mas não concordo. Acho muito gostoso, sim.
É bom prensar a amada e deixar marcas roxas.

Em pé, nas ruas, nos muros e cantos escuros,
Sentindo a maciez da pele e do corpo que afrouxas.
Um amor nervoso, pouco entendido pelos trouxas,
Desafiante, costumeiro de lugares pouco seguros.

Feito no atrium do templo majestoso do teu corpo.
Com urgência, sem detalhes, sob o domínio da ânsia
Poema de versos tortos e verbos sem concordância.

Desejo inquietante que não pode esperar.
Perfeito em tudo no que diz respeito a te amar
Em qualquer lugar, em qualquer circunstância.

Wednesday, May 14, 2008

Reflexão LXII (os joelhos)

Lógico que fazem parte das pernas, correto.
E porque admitem a flexão, que é essencial,
Merecem um tratamento diferente, especial.
Marcam o início das coxas, no caminho certo.

Sem eles, as pernas não teriam nenhum sentido.
Os movimentos que permitem essas dobraduras,
Proporcionam ao casal equalizar suas estaturas.
Cumprem a função de não deixar nada retorcido.

Fiel facilitador das mais imaginativas posturas,
Fazem dos seres humanos, graciosas criaturas.
Na reverência divina ou profana, seja como for,

Joelhos são peças vitais no bom jogo do amor.
A mulher ajoelhada é uma deusa a seu dispor.
E é de joelhos que se realizam boas diabruras.

Monday, May 12, 2008

Reflexão LXI (as pernas)




Meu pai dizia brincando que: podem ser bonitas,
Mas é a primeira coisa que você põe de lado...
Adolescente, entendia e achava muito engraçado...
Mas me atraiam bastante as pernas das “lolitas”.

A pernas cruzadas são potentes armas de sedução.
Esguias, bem torneadas, cobertas de pelinhos louros.
As negras sedosas, as musculosas, atiçam a paixão.
As orientais, mais baixas, são verdadeiros tesouros.

São as pernas que te trazem a mulher amada.
Ansioso, esperando a hora que foi marcada.
Merecem um carinho especial quando chegam.

Esse lindo atrativo feminino muitos desejam.
Pra mim, que sou demasiadamente interesseiro,
Depois do amor, vira um suave e doce travesseiro.

Wednesday, May 07, 2008

Reflexão LX (os pés)

(foto de Cleópatra - SP)

Adorados pezinhos que maltratam meu coração.
Tatuados ou não, em sandálias ou em cima do salto.
Unhas coloridas pintadas do mindinho ao dedão
Macios, mostrando os ossinhos e cheirando a talco

Gosto de massagear os dedinhos com carinho.
Passar a ponta dos dedos na sola devagarinho,
fazendo a mulher amada puxar o pé e rir divertida.
Adivinhando que minha intenção é mais pervertida.

O pezinho é só o começo, é por onde inicio o domínio.
Beijo com carinho, mordo o dedinho, dou uma lambida.
E como a planta cresce é pela raiz, vou fazendo a subida.

O pé, a base de tudo, informa que tipo é a mulher.
Refletem o corpo inteiro, os órgãos e os caracteres.
Confirma a medicina oriental. Adoro só os das mulheres.

Tuesday, May 06, 2008

Reflexão LIX (o punheteiro)

Desperto do sonho de pau duro, com tesão.
Com ela ainda na mente, busco alívio com a mão.
Mesmo estando muito distante, querida, meu amor.
Minha imaginação traz para bem perto, o teu calor.

Minha mão te busca longe e te faz presente
Imitando grosseiramente tua boceta quente.
Na cama onde você deitou ainda tem teu cheiro
E eu me recordo menino trancado no banheiro.

Desencanado com essa história de ser punheteiro,
Lia “catecismo” e “comia” revista de mulher pelada
Tinha tesão até por calcinha no varal pendurada

Na escola, vivia espionando o banheiro feminino.
Sem saber era devoto de Onan, o bíblico, o divino.
Mas, hoje, a saudade, te faz a minha homenageada.

Friday, May 02, 2008

Reflexão LVIII (a boceta)

Salve linda boceta, portal da humanidade.
Tua quente presença me faz mais viril.
De pau duro, penetro firme e sem piedade.
E exclamo contente: “que delícia, puta que pariu”.

Luva visguenta que a todos os calibres agüenta
E cujo vizinho é o apertado e enrugado cuzinho.
O grelinho é a cerejinha que enfeita o pastelzinho
Na rola entumescida, a bunda faz a descida e senta.

Pentelhuda, style ou raspadinha, eu caio de boca.
De língua, dentes e dedos. Beliscão, tapa e aperto.
Arrocho, puxão de cabelo, chupão e surra de rola.

O cú também não escapa porque é uma via oca.
E o caralho faz grande distinção, sentindo o aperto.
Justo não é certo, certo não é justo. Mando ver a rola.

Wednesday, April 23, 2008

Horizonte Dourado

Eu quero o horizonte dourado
Do amanhecer.
Eu quero um sol neutro.
Um nêutron solar.
Que me faça sonhar.
De qualquer jeito.
Sem medo.

Eu quero do bem querer
O corpo dourado que eu desejo.

Eu quero o horizonte dourado
Do entardecer
Eu quero uma lua clara
Um clarão no mar
O vento a soprar
E o seu beijo.
Sem medo.

Eu quero do bem querer
O corpo dourado que eu desejo.

Tuesday, April 08, 2008

Reflexão LVII (cantora)


Eu posso sentir o amor quando tua voz me alcança.
Porque tua voz é o vento que gera sentimento.
E, em sendo assim, tua voz é o sopro divino da vida.
Porque a tua voz traz sentido aos meus sentidos.
E, em sendo assim, altera a batida do meu coração.
Ave canora que traduz a melodia e desperta a magia das letras.
Encarnação da música, imagem iluminada, ao palco-altar elevada.
A mera circunstância da poesia, depende só do teu canto.
Porque teus gestos são significantes, maestrina dos instantes.
E, em sendo assim, faz do momento a minha eternidade.
Porque teu Ser tem uma nota musical vibrante que atrai.
E, em sendo assim, sou náufrago do teu canto sereia.
Preso em teus olhos fechados.

Tuesday, March 11, 2008

Reflexão LVI (legítima defesa putativa)

Vou descarregar um revólver
No peito da cachorra Adriana.
Não vejo outra forma de resolver
A raiva que sinto dessa putana.

Depois de despachá-la pro inferno
Essa vagabunda, torpe e traidora,
Se eu for preso, mesmo interno,
Vou sentir uma paz duradoura.

Ordinária, sonsa. Matá-la é pouco.
Estão achando que sou louco?
Não sabem o que fez, a imunda.

Mijou, cagou e sentou em cima
Da minha mais linda obra prima.
E com minha poesia, limpou a bunda.

Thursday, March 06, 2008

Reflexão LV (as nuvens)

Fiquei decepcionado quando aprendi o que eram. Vapor de água.
Só podiam ser um vapor de água diferente, pensei.
Bem distante do vapor que saía da chaleira na hora do café.
Para a minha imaginação infantil, eram sugestões gigantes que flutuavam no céu.
Passava horas deitado na grama olhando as nuvens e vendo nelas incontáveis figuras.
Menino nubicogo, testemunhava lentas metamorfoses brancas no azul infinito.
Na primeira viagem de avião, vi, iluminado pelo sol, um tapete inconcebível, magnífico.
Adulto e paraquedista, senti a felicidade de furar a nuvem em queda livre.
Mergulhava em direção a um tapete incrivelmente branco e depois de uma rápida neblina, podia ver a paisagem e a terra redesenhando contornos cada vez mais nítidos.
Nuvens de chuva também fascinam quando se desmancham em uma cortina de água.
Iluminadas por flashes e riscos luminosos nos desenhos hidrográficos dos relâmpagos.
Nuvens só fazem sentido à distância. São como paixões: envolvido por elas não se pode dar conta da dimensão e de como elas vão se modificando, criando quimeras.
Dentro delas não se vêem horizontes.

Tuesday, February 26, 2008

Reflexão LIV (as torturas)

Filhas do ódio, as torturas negam a humanidade.
Ou então, confirmam a humanidade, se chegam
a dar prazer ao carrasco de alma turva
e servem de espetáculo mórbido à multidão.
Só o Homem é capaz de inflingir sofrimento e dores excruciantes.
A criatividade maldita capaz de forjar torpes tormentos:
Os tornozelos presos a uma moldura de ferro, os pés untados com óleo
E, sob os pés, um braseiro para queimar a carne lentamente até carbonizar os ossos.
Um pequeno corte na altura do estômago
Para dali irem puxando para fora o intestino.
Uma corda e um cavalo para arrastar o infeliz até desmaiar.
Reanimado, será então esfolado com facas e espadas,
E amarrado a um formigueiro para servir de pasto às formigas carnívoras.
Esticado numa roda, tem seus braços e pernas quebrados, depois içado,
fica a mercê dos pássaros para morrer lenta e dolorosamente.
Unhas e dentes arrancados a frio e pregos martelados no lugar dos dentes.
Ferros em brasa enfiados em todos os orifícios. Testículos esmagados.
O ódio desmedido chegou a condenar a mais de um tipo de morte.
E o condenado sofreu todas elas:
Acoite para anunciar o ínicio dos flagelos,
Afogamento para ir aproximando a morte bem devagar
Enforcado lentamente até quase morrer, por diversas vezes.
Até a degola final que era uma espécie de benção, uma indulgência.
Mortes por imobilização: a crucificação, a suspensão, o enterramento, a masmorra.
Instrumento de governos autoritários, aliada das guerras, a tortura permeia a humanidade ainda, asquerosa, sorrateira, escondida em porões escuros, cheios de sujidade, merda, sangue, vômito, carne queimada e apodrecida.
A tortura traduz o poder do Homem sobre o semelhante contrário, o inimigo, e é impune, já que pretensamente foi criada para punir, com requintes.
Mas, o pior é a alma esvaziada do condenado que permite um retorno inconcebível, de gostar do seu carrasco.

Monday, February 18, 2008

Xote do Durango

Ah, menina como eu gosto de você.
Mas tá difícil, tá difícil de te ver
Tô sem dinheiro pra te dar presente
Só o que tenho é meu corpo quente.

Você bem que podia
ser boazinha.
Você podia
me dar um tempo.
Um tempo bom
juntinho de você.

Ah, menina como eu gosto de você
E sem dinheiro eu não posso ir te ver
Coisa barata acaba saindo caro.
E é muito duro ficar sem te ver
Tô durango, meu amor, por isso insisto:

Você bem que podia
ser boazinha.
Você podia
me dar um tempo.
Um tempo bom
juntinho de você.

Ah, menina como eu gosto de você.

Thursday, January 24, 2008

Reflexão LIII (o diário)

Querido Diário: estou sem assunto hoje. Até outro dia.

Tuesday, January 22, 2008

Morena Bandida


Morena bandida que no pagode seduz todo mundo.
Sambando seu corpo gostoso me causando ciúme
O povo te come com os olhos, meu coração pára um segundo
O jeito é tomar uma cachaça pra engolir o meu azedume

Morena bandida, teu jogo de sedução me deixa aflito
De salto fino, pisa em quem te ama, fere meu orgulho.
Tira o olho jacaré, quero brigar, estou disposto ao barulho.
Você nem liga, fazendo caras e bocas, nem aí pro conflito.

Morena bandida, vem rebolando pertinho e me beija na boca
Nessa hora sou o rei do pedaço e paro com o queixume
Marmanjo vê e fica com inveja, a rapaziada baba, fica louca

Morena bandida, deita na minha cama e como de costume
Me consola dizendo que ali é só minha, inteira e sem roupa
Nesse momento sei que no corpo dela minha paixão se resume

Friday, January 04, 2008

Reflexão LII

Sonhei que tinha havido um blackout no sonho.
O Sonho apagou completamente.
Ainda no sonho, acordei no escuro,
Acendi a luz e continuei sonhando.
Até que, acordei no escuro, acendi a luz e fui mijar...
Lembrei do Borges e seus labirintos...