Monday, April 29, 2013

Os gringos


Não é a primeira vez que esse casal aparece aqui na Divisa. Noruegueses, ele ainda fala um pouco de português. Ela, apenas algumas palavras. Adoram uma cachaça e uma droga. Cocaína, maconha. Desconfio que eles sejam traficantes internacionais, visto a intimidade que têm com os donos do morro do José Menino. Vivem em conflito, brigando. E ninguém entende o que eles dizem um ao outro. Mas, o Djavan, negão local, é chegado na gringa. O gringo desaparece morro acima, atrás de droga e meninas fáceis e Djavan resolve consolar a gringa. Os dois bêbados. Ela tenta se fazer entender em inglês mas não consegue. Djavan não fala inglês. A conversa segue: ela grunhindo uma língua cheia de sons sibilantes e o negão falando português com sotaque, imaginando que com isso ela o entenda. Mas, a comunicação tem os seus mistérios e Djavan conduz a gringa para o seu cafofo que fica no pé do morro, depois da linha da máquina, encarregando o gaguinho para avisar caso o gringo desça o morro. Mas, nesta noite, o gaguinho teve de sumir porque a barra pesou e a Divisa ficou lotada de viaturas da polícia. O gringo desceu antes da hora e deu merda. Queria saber onde estava sua mulher. Interrogou inutilmente o pessoal do bar do Regis, foi até a barraca do churrasqueiro na praça, foi até o quiosque na praia e nada. Voltou para o bar, sentou-se numa cadeira na porta e, visivelmente irritado, ficou vigiando a rua, bebendo Dreher puro. Ficou quieto e, vencido pela bebida cochilou, dormiu. Djavan apareceu na esquina com a gringa. Viu o gringo dormindo, chegou devagar, fez um sinal para a gringa sentar-se numa cadeira no fundo do bar e sentou-se perto dela. Ficaram lá bebendo cerveja. Então o gringo acordou com a voz da mulher e nervoso, levantou e começou a brigar gritando em norueguês com a mulher, que respondia gritando também. Então o Djavan levantou a mão espalmada para o alto,dizendo:

- Calma aí ô canadense. Tá Nervoso?

E o gringo:

- Onde ér que voceis tava com ela?

O Djavan, cruzando os braços e meneando a cabeça, diz:

- Muito bonito, hein? Ninguém saiu daqui! Ela foi no banheiro, você não procurou direito e
depois veio dormir aqui...

- Tá mi tchirano, negon?

- Tirando eu? Tá doidão é maluco?

- Eu non ser trouxa. Eu tchi mato negon.

Aí a gringa se levanta muito nervosa e grita:

- Párra! Párra já! Matar meu negon non. Ele bom amigo, intendhi?

E sai do bar, arrastando o gringo falando norueguês.

Djavan olha pro pessoal e diz:

-Eu hein! Põe uma cachaça aí Regis. Copo cheio que hoje já falei até alemão.

Sexta Feira




Dia com sabor especial
É véspera de Sábado.
E já estou preparado
Para a praia com o pessoal.

Mas ainda tem o dia inteiro.
E pode ser que o tempo mude.
Vamos cuidar do financeiro
Com juízo e mantendo a atitude.

Acabou o trabalho, é hora da cerveja
Com alguns dos colegas da empresa.
Beber pouco e manter a chama acesa

Porque mais tarde tem a namorada.
Com ela a noite é completa e benfazeja.
E sou muito mais feliz com a amada.



Saturday, April 27, 2013

Quinta Feira


Se ontem eu não exagerei,
Tive controle e moderei,
Hoje é um dia a ser vivido:
O trabalho segue produtivo.

Mando flores para ela agradecido.
Mantendo o relacionamento positivo.
Pois mulher carinhosa é bom demais
E cuido bem para merecer mais.

Esta noite o encontro é diferente:
Comigo mesmo, O reflexo e O silêncio.
Num exercício mais profundo e silente.

Vou dormir em Paz Profunda.
Com a alma vibrando diferente.
A Egrégora, no sono, comunga.

Tuesday, April 23, 2013

Quarta Feira

Agora o corpo já acostumou
A levantar cedo e disposto.
Sem beber, a ressaca acabou.
O trabalho flui e dá gosto.

No almoço, feijoada e cerveja
Já adiantando o fim de semana
Comemorando sei-lá-o-que-seja.
Aquele negócio que rendeu grana.

Fazer planos com a namorada
Um restaurante e a noite esticada
Um carinho pois não sou de ferro.

Nessa noite dificilmente eu erro.
A deliciosa companhia da amada
E depois o futebol com a rapaziada.

Saturday, April 20, 2013

Ônibus Lotado


Ônibus Lotado.

Uma e trinta da tarde. Já aguardava o ônibus há uns vinte minutos. Seguiria da Presidente
Wilson em São Vicente, pegaria a avenida da praia do Itararé, Divisa, em Santos, José Menino, Gonzaga, Ana Costa até a Carvalho de Mendonça. Reunião importante, estou atrasado. No ponto de ônibus vários alunos de uma escola próxima, algumas senhoras, meninas de uniforme. Ansioso, fiquei atento a todos os coletivos que entravam na avenida por uma travessa distante uns 150 metros. Então lá vem o casal. Ela vestindo uma calça cinza colada no corpo. Desenhando integralmente a bocetinha. O capozinho de fusca. Pararam a um metro de mim. Ela percebeu que eu olhava. Mulheres têm esse “radar” e sabem que chamam a atenção com esse tipo de vestimenta. Parece uniforme. Todas com a roupa marcando o corpo. Ressaltando as reentrâncias. Umas lindas. Outras expondo os defeitos físicos, bundas murchas, abdomens grossos. Aliás, essa aqui tem uma bunda bastante pronunciada, parece sofrer de lordose, mas tem uma gordura abdominal quase equivalente ao traseiro. Ficou conversando com o namorado, trocando carinhos. Olhou pra mim ligeiramente e cochichou ao ouvido do namorado que contou cinco segundos antes de virar-se para me ver. Depois, deu um passo para o lado, escondendo a calipígia namorada. Fiquei atento ao ônibus e finalmente lá veio ele. Coincidentemente, também era o deles. Deixei algumas senhoras entrarem primeiro, depois ela entrou com ele em seguida, sem me olharem. Deixei ainda mais uma mulher entrar e então fiquei nos degraus e a porta se fechou por trás de minhas costas. Avancei para a roleta seguindo o fluxo dos passageiros que iam se posicionando nos espaços vagos. Ônibus lotado. Eles estavam em pé do lado direito, encostados nos bancos ocupados. Gente de um lado e de outro. Impossível não haver contato físico. Ele me viu e, acredito que imaginou que eu tiraria uma casquinha de sua namorada, porque colocou a mão espalmada na bunda proeminente dela. Eu pensei em evitar o contato com eles, mas vi a mão dele descendo da cintura para a bunda e resolvi que não. Literalmente, um sujeito cuzão, do caralho. Lentamente forcei a passagem por eles e fiz com que ele sentisse no dorso da mão o meu volume. Felizmente em repouso. Ele virou rápido o rosto me olhando sério e inconformado. Achei que ia dizer alguma coisa, mas não disse nada. Que é que eu posso fazer, meu camarada, ônibus lotado... pensei, buscando me acomodar em um espaço vago mais à frente. O coletivo foi esvaziando e eles sentaram em um banco. Segui em pé. Na Ana Costa o casal desceu. Na calçada, ela, arrumando o cabelo, olhou pra mim por baixo do cotovelo do braço que prendia a raiz do seu rabo de cavalo e pareceu sorrir...

Tuesday, April 16, 2013

Terça Feira


A segunda conta do meu rosário.

Faltam ainda quatro dias inteiros
De trabalho árduo. Um calvário
pleno dos problemas costumeiros.

Se ao menos houvesse outro jeito...
Mas não consigo viver da arte.
E essa é a dor do meu peito
Que talvez um dia me enfarte.

Não tive meu talento muito valorizado.
Poucos compram meus trabalhos
A maioria investe em pintor consagrado.

Não posso deixar de trabalhar,
No comércio para pagar as contas
e com arte para poder respirar.