Thursday, February 14, 2013

Medos Contemporâneos

Meus medos não são raros
Da minha janela vejo o mar
E sinto vontade de me atirar
Lá embaixo sobre os carros

No banco depois do saque
Fico desconfiado do segurança
Que parece pronto pro ataque
Não acredito em sua vigilância

No sinal parado, o malabarista
Não me convence que é artista
Fecho o vidro e pressiono a trava
Antes isso não me preocupava

Mas depois dos noticiários
Com seus ataques diários
Tenho medo da minha sombra
Até estar vivo me assombra

Saturday, February 09, 2013

Essência

Eu busco a tua essência
O adensamento de tua alma invisível.
O pensamento complexo, indizível
A gravidade que no teu corpo
comprime quem tu és em ti mesma
Em sumo condensado de mulher.
Essa profusão de gotas de mar em teu suor.
As volantes do ar que respiras.
Do fogo evanescente do teu calor
As essências de que são feitos os perfumes.
Das cores que se juntam na cor branca
Do meu amor por ti que desagua
A essência desse amor essencial
Consumido na espuma
Da pastilha efervescente na água.
O ar comprimido
O céu escondido
no infinito universo de estrelas no céu.

Friday, February 08, 2013

O problema das conversas ao celular.

- Eu vou terminar com você, não porque eu quero, entendeu?
Passou por mim falando ao celular.
-Não é porque eu quero, entendeu? Vou terminar com você...
E, depois não deu mais para ouvir a conversa...
Ainda pude avaliar a imagem da pessoa que se distanciava na rua. Baixinha, cheiinha, blusa branca, calça preta mostrando os ressaltos do elástico da calcinha na bunda. Pouco atrativa. Voz desafinada, cheia de altos e baixos.
Fiquei imaginando com quem ela falava. Talvez uma pessoa sendo descartada. Relacionamento amoroso? Talvez. Sei lá. O problema das conversas ao celular. Nossa exposição quando falamos, seja de que assunto se trate. As pessoas em volta ouvem, participam da conversa, ficam sabendo detalhes. Nossos encontros, horas, locais. Nossas mentiras: “estou em...” e o local é completamente diferente. Estou sozinho, sim, pode falar....cheio de gente em volta...O celular nos expõe e nos torna inconvenientes. No meio de um assunto, toca o aparelho e a pessoa atende olhando em nossos olhos e, em seguida, nos dando as costas. Pior são os que permitem acesso à internet. A pessoa anda pela rua olhando para a palma da mão...Conversam simultâneamente ao vivo e virtualmente...A mim incomoda muito esperar o término de uma conversa que interrompeu a minha. Li, certa vez, um texto sobre a ética no uso dos telefones celulares. Desligar durante uma reunião, durante o almoço, o jantar, no cinema...As pessoas precisam ser educadas no uso desse aparelho. Deve haver um nome em psicologia para essa dependência atroz do telefone celular. Quem souber me fale.(*) Há, digamos, 40 anos atrás, quando não haviam celulares, we manage just the same...e tudo era mais tranquilo. Para telefonar, ia-se à farmácia ou padaria. Telefone em casa pouquíssimas famílias tinham. A telefonia evoluiu por imposição da indústria automobilística que no inicio de suas operações no País, necessitava de comunicação rápida e eficaz. No breve século passado, o desenvolvimento foi incomparável. Séculos anteriores começaram e terminaram quase sem novidades. Exceto o século XX. Muita coisa mudou. A tecnologia se desenvolve a cada dia. O que era novidade há 3 ou 4 meses, já não é mais... Mas a capacidade de adaptação do Ser Humano não parece ter a mesma velocidade. Tenho o meu celular também. Tenho aparelhos com funções que jamais usei e outras que sequer imagino que existam. Uso o liga e desliga. O mesmo botão. O timer da televisão que me é muito útil. E mais nada. Deixo para quem curte esse universo tecnológico a conversa da mocinha: vou terminar com você, não porque eu quero. Entendeu?


(*) NOMOFOBIA (informou meu amigo Fabio Stefani.)

Wednesday, February 06, 2013

O problema das embalagens descartáveis

Comprei uma latinha de Itaipava na mercearia da Camilla. Sai mais barato que no bar. Só que lá não tem mesa e o jeito é sentar no murinho do quintal ao lado, sob a sombra generosa de uma castanheira. Retiro o selinho da lata, limpo com ele a colinha que persiste no bocal e bebo um gole longo e gelado. Fico em silêncio até que chegam cinco meninos magrinhos... sem camisa, bermuda até as canelas, descalços, cada um com sua prancha.
-Aê, aquela pranha custou uma moeda. Já paguei metade.
-Aê, diz o outro, perdi minha correntinha no mar. Saca quando ela fica pra trás? Pensei que tava assim, pus a mão e já era! Perdi.
-Eu tenho uma pra vender.
-Traz aí. Leva lá em casa que eu quero ver.
-Vai comprar o bagulho! Diz o maior deles para o menor, com 10 reais na mão.
O menino entra na mercearia e volta com uma Dolly dois litros, um pacote de bolacha doce e cinco copos descartáveis.
Um abre a garrafa e um outro rasga com os dentes o pacote de bolacha ignorando para que serve a fita vermelha com abinha na embalagem.
Começam a comer enquanto o menor serve a bebida
-Aê, não sou garçom não seus otários do caralho!
Os outros riem.
-Porra, beberam o meu bagulho. Pega aí quem quiser!
E larga a garrafa no chão.
-Meu, tá ligado naquela mina da praia hoje?
-Já catei, seu mané! É lá de cima da caixa d”agua.
O maior pergunta:
-Tá com o bagulho aí?
-Tô. Responde o menor.
-Passa.
Pega uma trouxinha, guardanapo de papel e começa a enrolar um baseado.
-Catou o caralho, mano. Ela falou que não.
-Tá, seu otário, e tu acreditou. Catei. Pronto.
-Foda essas novinha. Tudo catada. Depois chega junto querendo fumar.
Cigarro pronto, olham para mim pela primeira vez.
-Bóra lá em cima fumar! Diz o maior.
-Bóra! Concordam os outros.
E saem os cinco conversando, deixando no chão a garrafa vazia, a embalagem da bolacha e cinco copos descartáveis.