Saturday, July 16, 2011

A coisa mais incrível que eu já vi.

Governantes não se apercebem da dimensão que suas ações alcançam. Collor foi culpado de diversas tragédias, não divulgadas, através do sequestro da poupança, das contas correntes e dos investimentos com o advento do cruzado. Coisa que ele dizia, em campanha, que o seu adversário Lula faria, caso eleito. Eu não votei nele mas, como tantos, fui pego de surpresa e muita coisa na minha vida mudou, para pior.
Minha empresa de propaganda tinha uma carteira de 15 clientes e ficava em um sobrado no bairro do aeroporto. Numa manhã recebi 15 telefonemas solicitando suspender os investimentos em propaganda e marketing. O resultado foi o fechamento da empresa e demissão dos funcionários. Sem clientes uma agência de propaganda não é nada. Por isso tive que entregar o prédio e mudar para o interior onde meu pai e minha mãe viviam em um sítio próximo a Itu.
Rusty era o meu boxer que morava comigo na agência. Um cão com pedigree, pais campeões da raça, veterinário exclusivo e treinador militar. Dino era nosso cãozinho do sítio sem raça definida, um pequeno vira latas, fujão e encrenqueiro. Desafetos desde sempre os dois nunca se deram, nunca se entenderam até aquela noite incrível... Quando ainda viviam em cidades distantes, em nossas visitas ao sitio, o Rusty ia junto e o Dino não perdia oportunidade para confrontá-lo num embate flagrantemente desfavorável a ele. A presença do Rusty transtornava o Dino. E isso era um problema a mais com a minha mudança para Itu.
Meu pai, alertado da minha ida para o sítio, criou dois cercados grandes. Um para cada cachorro porque o Dino não iria dar espaço para o Rusty. E o Rusty poderia facilmente matar o Dino. A única solução era o aparte. O ciúmes do Dino era excessivo. Bastava alguém acariciar o Rusty para que ele aprontasse o maior banzé lá do seu cercado. A comida tinha que ser servida primeiro a ele sob pena de greve de fome e malcriações como entornar a água e estraçalhar seus cobertores. Chegava a irritar. Viveram assim alguns meses até que o Rusty adoeceu de um mal estranhto que o debilitava a cada dia. Veterinários, internação, medicamentos e nada adiantava. Em razão de seu estado, Rusty agora dormia na sala de casa.
Numa noite, eu e meu pai saimos com o Rusty para o quintal a fim de que ele vomitasse na grama. O Dino, como sempre, despejou seus impropérios. Rusty vomitou, olhou para o Dino que latia à distância, olhou para mim e para meu pai e saiu cambaleando até a tela onde estava o Dino que não parava de latir. Rusty encostou seu nariz na tela. Eu e meu pai observávamos. O Dino latiu mais agressivamente ainda e, de repente, parou de latir. Aproximou o seu nariz ao do Rusty através da tela e se cheiraram por um instante. Então o Dino ganiu dolorosamente, correu um pouco em direção a sua casinha. Parou no caminho. Voltou e encostou de novo seu nariz no do Rusty e ficou lá alguns segundos. Parecia uma conversa telepatica. O Rusty voltou para perto de nós e vomitou novamente. Dino ficou sentado na beira da cerca observando quieto. Rusty não nos esperou e voltou para dentro de casa. O Dino não latiu mais aquela noite inteira e também no dia seguinte quando saimos com o Rusty para levá-lo ao hospital veterinário de onde ele não saiu mais...