Governantes não se apercebem da dimensão que suas ações alcançam. Collor foi culpado de diversas tragédias, não divulgadas, através do sequestro da poupança, das contas correntes e dos investimentos com o advento do cruzado. Coisa que ele dizia, em campanha, que o seu adversário Lula faria, caso eleito. Eu não votei nele mas, como tantos, fui pego de surpresa e muita coisa na minha vida mudou, para pior.
Minha empresa de propaganda tinha uma carteira de 15 clientes e ficava em um sobrado no bairro do aeroporto. Numa manhã recebi 15 telefonemas solicitando suspender os investimentos em propaganda e marketing. O resultado foi o fechamento da empresa e demissão dos funcionários. Sem clientes uma agência de propaganda não é nada. Por isso tive que entregar o prédio e mudar para o interior onde meu pai e minha mãe viviam em um sítio próximo a Itu.
Rusty era o meu boxer que morava comigo na agência. Um cão com pedigree, pais campeões da raça, veterinário exclusivo e treinador militar. Dino era nosso cãozinho do sítio sem raça definida, um pequeno vira latas, fujão e encrenqueiro. Desafetos desde sempre os dois nunca se deram, nunca se entenderam até aquela noite incrível... Quando ainda viviam em cidades distantes, em nossas visitas ao sitio, o Rusty ia junto e o Dino não perdia oportunidade para confrontá-lo num embate flagrantemente desfavorável a ele. A presença do Rusty transtornava o Dino. E isso era um problema a mais com a minha mudança para Itu.
Meu pai, alertado da minha ida para o sítio, criou dois cercados grandes. Um para cada cachorro porque o Dino não iria dar espaço para o Rusty. E o Rusty poderia facilmente matar o Dino. A única solução era o aparte. O ciúmes do Dino era excessivo. Bastava alguém acariciar o Rusty para que ele aprontasse o maior banzé lá do seu cercado. A comida tinha que ser servida primeiro a ele sob pena de greve de fome e malcriações como entornar a água e estraçalhar seus cobertores. Chegava a irritar. Viveram assim alguns meses até que o Rusty adoeceu de um mal estranhto que o debilitava a cada dia. Veterinários, internação, medicamentos e nada adiantava. Em razão de seu estado, Rusty agora dormia na sala de casa.
Numa noite, eu e meu pai saimos com o Rusty para o quintal a fim de que ele vomitasse na grama. O Dino, como sempre, despejou seus impropérios. Rusty vomitou, olhou para o Dino que latia à distância, olhou para mim e para meu pai e saiu cambaleando até a tela onde estava o Dino que não parava de latir. Rusty encostou seu nariz na tela. Eu e meu pai observávamos. O Dino latiu mais agressivamente ainda e, de repente, parou de latir. Aproximou o seu nariz ao do Rusty através da tela e se cheiraram por um instante. Então o Dino ganiu dolorosamente, correu um pouco em direção a sua casinha. Parou no caminho. Voltou e encostou de novo seu nariz no do Rusty e ficou lá alguns segundos. Parecia uma conversa telepatica. O Rusty voltou para perto de nós e vomitou novamente. Dino ficou sentado na beira da cerca observando quieto. Rusty não nos esperou e voltou para dentro de casa. O Dino não latiu mais aquela noite inteira e também no dia seguinte quando saimos com o Rusty para levá-lo ao hospital veterinário de onde ele não saiu mais...
Saturday, July 16, 2011
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