Wednesday, May 27, 2009

Reflexão XCV (a puta)

Se querem mesmo saber, eu admiro a puta!
Com ela o combinado não é caro, não discuta.
Mulher catarse para a sociedade hipócrita.
Que por conveniência a mantém proscrita.

Disponível por dinheiro como todo mundo
Só a natureza do seu trabalho é diferente.
Mulher de vida fácil nada. Há quem agüente?
Ter de controlar o asco de cliente imundo?

Embora não assuma, tem mulher que fantasia
Ser dama na sociedade e uma puta na cama
Para satisfazer os desejos do homem que ama

Eu prefiro a puta original, que não reclama.
Não vem com o lero-lero de que me ama.
Não me cobra pensão, nem quer primazia.

Thursday, May 21, 2009

Reflexão XCIV (o umbigo)

É uma cicatriz do nascimento. Única, individual.
É marca equivalente à impressão digital.
Depende da barriga para ter beleza estética.
O abdômen tem de ser liso, de boa genética.

O da Karolina Kurkova é um peculiar distúrbio.
Em barriga grande parece um bico de assobio.
Na mulher grávida, lembra o dedinho do nenê
Para ter charme é preciso que o ventre aplaine

O umbiguinho da mulher amada é um delírio.
Com uma jóia incrustada é para os olhos um colírio.
E ela torna-se uma odalisca dos mil e um desejos.

O piercing no centro do corpo lançando lampejos
É um farol que me guia para o teu amor noturno.
E, lá fora, no céu, meu destino é traçado por Saturno.

Wednesday, May 20, 2009

Reflexão XCIII (porto inseguro)

Na minha sombra,
Sob a minha asa:
Descanso de sobra
E o corpo em brasa.

Na minha sombra,
Sob a minha asa:
O trabalho dobra
Vá limpar a casa.

Na minha sombra,
Sob a minha asa:
Do couro tiro a dobra
Meu pau te rasga.

Na minha sombra,
Sob a minha asa:
Amor, a dor assombra
E a mim compraza.

Na minha sombra,
Sob a minha asa:
A submissão se cobra
Minha rola te engasga.

Na minha sombra,
Sob a minha asa:
Essa é a minha obra
Já te comi, agora vaza.

Monday, May 18, 2009

Reflexão XCII (proposta)

A borduna do índio servia pra tontear a caça.
A sangria vinha depois na vasilha com limão.

A tribo em festa dança feliz enquanto a carne assa.
A antropofagia para a fome seria uma solução.
Banquete de inimigo, antagonista, desafeto e patrão.

Thursday, May 14, 2009

Reflexão XCI (mamãe)

Da minha mãe apanhei muito
Por conta de seu nervosismo.
Ela tinha ataques de histerismo
E sobrava pra mim um pau gratuito.

Apanhava de cinta dobrada.
Com um violento repelão, sacada
De um fio na porta do roupeiro.
O cinto zunia e eu abria o berreiro.

No quarto, em cima da cama,
O couro comia deixando vergão.
A lapada arde e a pele inflama.

Violência infantil ainda não existia...
- Engole o choro, safado, cachorrão,
Vai já pra cozinha e lava a louça da pia!

Monday, May 11, 2009

Soco no Ar

Rapaziada eu tô feliz
Eu faturei a Beatriz
Encontrei com ela no pagode
Ontem lá no grêmio.
Põe cerveja aí pra mim
Que eu conto como
Ganhei o prêmio.
Sem colarinho, por favor
Que hoje tá calor
Eu tava no bar do Bigode
Meio cachorro-chora
Perto do vaso de comigo-ninguém-pode.
Quando o Maneco me ligou
E pro samba me convidou
Chegando lá que maravilha
A Beatriz tava sambando sozinha
Puxei a morena pelo salão
Convidei para jantar mais tarde
No bar do alemão. E ela disse:
Com vinho, fico facinha.
Não deu outra.
Depois da janta, levei pro barracão
E vivemos nossa paixão
Agora, vou até trabalhar
Fiz um gol de placa
Sou Pelé na vida
Vou pular e dar um soco no ar.
Põe mais cerveja aí,
Pra comemorar.
Vou dar soco no ar
Vinho eu não bebo mais sozinho
Bebo com a Beatriz, o meu amorzinho.

Friday, May 08, 2009

O Culpado Sou Eu !

Vila Belmiro
Numa tarde de domingo
A multidão pedindo
Mais um gol do negão.
Ele atende
Manda a bola pro fundo das redes
Sai correndo, soca o ar.

Deixo o estádio
Subo o morro sem aflição
Sou da área, sei onde é contramão.
Mesmo assim,
Uma bandida surge pra mim
Dá um tiro
Pega no meu coração

Acordo assustado
Agradeço por ser pesadelo
Sinto um arrepio no cabelo
Pois lá fora tem confusão.

É a polícia
Que enquadrou e prendeu
Uma bandida
Algemada
Chorando e abatida
Olhou pra mim
Como pedindo perdão.

Já no camburão
Ainda me olha e parece sorrir...
Ali minha vida deixou de existir
Senti um vazio no meu coração.

Corri pro distrito, para dela ser testemunha
Não é ela quem se supunha
A dona da contravenção

O culpado sou eu!
Que vivo do craque que admiro
Defendo a carreira que aspiro
E fiz minha mulher de avião...