Wednesday, November 17, 2010

Meu Velho

Ele está doente.
Idoso.
Próstata.
Está amuado, sem forças, sem ânimo.
Mas ri um pouco quando falo alguma besteira.
Ou quando relembro algumas de suas histórias.
Come pouco.
Pensa muito.
Pressente que a morte se avizinha, perigosa.
Procuro por uma quimera
Para transformar lembranças em vida nova
Por onde o tempo não passe...
Mas não há mais como protegê-lo.
Essa bosta de doença de homem
Que ele resiste enquanto pode
Quando não puder mais, estarei orfão do meu velho de tantos anos,
Enroscado nos espinhos de uma saudade imensa.
Sem esperança e com a alma infinitamente mais pobre.

Friday, November 05, 2010

Novembro

Logo no começo tem o dia de finados.
Sempre estranhei muito esse feriado.
É esquisito visitar parentes defuntos.
Acende vela, reza e acabou o assunto.

É raro o ano que nesse dia não chove
Serve o pretexto para a faxina do jazigo
Gente saudosa chora e ninguém se comove.
Tenho medo que isso aconteça comigo.

A morte é certa. O que temo é a saudade...
Feriado da república e consciência negra.
Dia da Bandeira, hasteadas por toda cidade.

O horário de verão faz o dia ficar mais longo
O lixo acumulado no jardim da orla da praia
É criadouro para a dengue e o pernilongo.