Wednesday, November 30, 2005

Sede de Afogado.

Ninguém sabe do meu desespero.
É meu. Enraizado no meu coração.
Poucas pessoas mais sensíveis percebem.
Pelo meu jeito.
Pela minha Voz.
Pelo meu Olhar.
Mas atribuem meu comportamento a outras coisas.

Ninguém sabe do meu desespero
De desesperança
De desamor
De desafeto
De falta abismal

Do que? Eu não sei.
Uma falta que cava um poço na alma.
E me faz sozinho na multidão.

Uma falta.
Que não consigo saciar.

Sede de afogado.

Wednesday, October 26, 2005

Um tempo.

Perdido na solidão dentro da multidão.
O mundo em movimento.
Pessoas nascendo.
Pessoas morrendo.
Todo dia.
Toda hora.
Minha mulher dançando.
No jardim, uma única flor.
O sol ilumina.
Eu sou assim.
Isso.
Pensando.
Parado.
Olhando.
O mundo muda a cada segundo.
O tempo todo.
Vou agradecer.
O tempo todo, o tempo.

Monday, July 25, 2005

Teus Sumiços

O que fazer com esta dor?
Uma lança de gelo no coração.
Um tremor nas mãos.
Pensamentos circulares e sombrios, recorrentes.
O mundo sem você.
Um vento frio sobre o deserto.
Um silêncio incompreensível.
O vazio.

O que fazer com esta dor?
Vou para o bar, a cerveja não consola.
Outra mulher, não me satisfaz.
Os amigos, não me convencem.
Os livros, não me distraem.
Nos filmes, eu morro no final.

Meu enredo, meu credo, meu plano.
Tudo comprometido nessa relação sem compromisso.

- E se eu tiver outra pessoa?
- Sempre quis ser teu amante.

E você some no mundo... não te vejo... não te ouço.

Wednesday, June 15, 2005

Celular Desligado

Eu chamo e o celular está desligado.
Lembro que você desliga quando está comigo.
E fico querendo saber com quem você está.
Fico imaginando você fazendo o que faz comigo

Mas em outro lugar
Com outro par

Eu chamo e o celular está desligado
Ligo da praia, Ligo do Bar
O dia inteiro desligado
Ligo de Casa, Ligo da rua
A noite inteira desligado

Fico aflito, impaciente, doente, pirado.

Eu chamo e quando consigo,
Você diz que a bateria descarregou
Que me ama e que ninguém te tocou.
Que ta vindo ficar comigo
E quando chega, desliga o celular.
E faz o que sempre faz comigo.

Friday, June 10, 2005

É assim...

Quando eu te quero, você não me quer
Quando não te quero, você me quer...
Por isso, não vou te ligar.
Não vou me importar com você.
Não vou elogiar.
Não vou insistir para você ficar comigo.
Assim,
Você fica com saudade.
Você fica querendo saber porque eu não ligo.
Você fica esperando
E quando você liga, não atendo na primeira
Às vezes digo que estou ocupado e só ligo de volta muito mais tarde

Se é assim que você gosta...

Assim Seja.

Wednesday, June 01, 2005

E depois de tudo... Além de tudo...

Depois de todas as evidências de que não sou amado.
Depois de toda recusa aos meus apelos...
Depois de descobrir os meandros mais sujos do teu passado.
Depois de ser xingado por você.
Depois de descobrir que você e sua família são uma quadrilha.
Depois de descobrir todas as mentiras que você contou.
Depois de ter considerado que não servimos mesmo um pro outro,

Depois de tudo isso,

Eu ainda fico pensando em como eu me sentia feliz depois de ter você.

Thursday, May 26, 2005

Nem sempre foi assim.

Na verdade não sei explicar.
Talvez a receita seja:
carência, baixa estima e memórias de outras relações que ainda não cicatrizaram.
Aí vem esta dor de estômago, o sofrimento indescritível e abominável.
A imaginação criando os cenários mais terríveis de infidelidade explícita.
Tudo fica reduzido, circunscrito ao nível animal, apetites, paixões, violência.
E o pensamento fica estagnado em um único ponto focal: a merda.
O mundo é uma merda.
Os amigos são uns merdas.
O bar é uma merda.
A música é uma merda.
A vida é uma merda.

Mas nem sempre foi assim...

Teve vezes que a merda da namorada parecia chantilly...

Tuesday, May 24, 2005

O Tempo

O tempo é meu aliado.
O tempo me protege,
me ajuda a esquecer.
O tempo cicatriza, solda o osso, cura a alma.
Faz da ferida uma lembrança que não dói mais.
O tempo me salva, me distancia...
O tempo domina a vida e cada coisa vem a seu tempo

Friday, May 20, 2005

Bandida

Teu mundo não tem noção do meu.
Meu mundo não entende o teu.

Não gosto de conviver com o sofrimento.
Não acho normal o crime, o tráfico, a prostituição.
Detesto pagode.
Detesto teus sumiços. O celular desligado.
Noites insones.
Uma carência abismal cheia de ressentimentos gelados.
Uma dor sem jeito que me põe fraco.

Você já esteve presa. Fugiu e não quer voltar.
Pra mim é tudo novidade.

Estou preso numa cela emocional.
Não consigo fugir e quero voltar.

Wednesday, May 18, 2005

Pseudo Soneto

Eu não sei fazer soneto
Não sei contar o metro
Começo por baixo ou pelo teto?
Sinto medo e não me meto

Parece coisa difícil, um espeto
Mas deve ter um truque certo
Entortar a palavra de modo correto
Deve ser assim que sai soneto

Mas para quem já tentou
Quase tudo na vida
E nunca no alvo acertou

Não custa tentar, mesmo perigoso
Se me perder e ficar sem saída
Peço socorro pro Glauco Mattoso.

Tuesday, May 17, 2005

Em Palavras

Entrego em palavras
o teu silêncio que me lê.
Basta-me a tua música impessoal.

Friday, May 13, 2005

Preto e Branco

Uma foto antiga e ampliada na parede.
Tirada de cima de algum prédio
de uma praia do Rio de Janeiro.
Reconheço por causa dos morros na linha superior.
A praia coalhada de gente.
Pequenos perfis negros.
Talvez, todos mortos já e sem saber que foram fotografados.
Carros antigos numa avenida sem sinalização nenhuma.
Com certeza, todos já viraram sucata há muito tempo.
Um sol ancestral.
O mar de sempre batendo.
Ainda a mesma praia que existe hoje.
Aqui, este “instantâneo” para sempre,
Já começa a ser comido pelos cupins.

Thursday, May 12, 2005

Eu, hein...

Eu escrevo muitos eus nos meus poemas.
Mas é porque eu me conheço melhor do que às outras pessoas ou coisas, ou assuntos...
Eu, na verdade, não quer dizer nada.
Apenas um pronome que não reflete
propriamente uma pessoa.
Não sou egocêntrico, egotista ou egoísta.
Sempre compartilhei minhas coisas, idéias e até mulheres.
Dividi meu vinho, meu pão e meu dinheiro.
Dediquei meu amor até para quem não me quis.
Por isso, fui me diluindo no mundo e hoje estou só.
Mas não me importo.
O Mundo inteiro ainda está disponível, como eu.

Wednesday, May 11, 2005

Espera

A luz permeia os cantos do quarto, coada pelas frestas da janela.
Luz lunar.
Reflexo que seduz as sombras da noite e cria paisagens no escuro.

O ar cinza recorta os objetos em imagens difusas, reconhecíveis apenas pela sugestão.

Fecho os olhos e um novo escuro, mais denso, projeta sonhos
Que são o avesso da visão, o reverso da vida.

Uma química especial destila no sangue uma paz profunda

E inexisto diluído no sono...

Tuesday, May 10, 2005

Eu era diferente

Sinto saudades de mim.
Eu era diferente.
Tinha outro corpo.
Pensava mais positivamente.
Sonhava com mais esperança.
Hoje não.
Ando afogado em cerveja, buscando a sobrevivência,
lado-a-lado com a conveniência.
Indolente.
Esquecido no calor do sol e no brilho da lua.
Só e querendo dias mais longos, noites sem fim.
Sabendo estar perdendo muito tempo na vida.
Crescido e ainda querendo crescer.

Mas sou eu quem põe as estrelas neste céu.
E, na minha vida, o destino, fui eu que teci.

Monday, May 09, 2005

Ponto de Vista

Só aceito sentir dor humana.
Outro tipo de dor, não.
E a TV, prótese poderosa dos meus olhos,
Mostra todas as misérias do mundo:
As guerras,
As fomes,
A corrupção que gera a pobreza.
Os roubos e assassinatos
O sangue derramado...
Tudo sem cheiro, antisséptico.
E por um ponto de vista profissional, cuidadoso.
E depois, me faz apelos ao consumo.
Mostra outra vida.
Belas mulheres
Riqueza e poder.
E é a dor de não poder que me revolta.

Friday, May 06, 2005

Lista de Reclamações

As mancadas.
As faltas.
As traições.
Os Erros.
As mentiras.
Um roteiro de palhaçadas
que eu queria jogar na tua cara.
E, um discurso final
Para eu sair por cima e te deixar mal.
Ia te fazer esperar...
Mas acabei chegando antes
Esperei...

Você chegou. Sorriu. Me chamou de bobo e mentiu de novo:

-Eu te adoro, amor. Só você.

Que merda.
Ninguém muda uma linha sequer do passado.
E, porra, meu tesão não pode ser adiado.

........

Thursday, May 05, 2005

O Remédio

O REMÉDIO

Procuro aplacar minhas dores de todas as formas:

Dor de uma falta antiga, com filmes que já vi,
Mas que ainda me excitam.

Dor de ser inábil, com o fumo de cigarros proibidos.

Dor de incapacidade, com a aspiração de poeira cósmica.

Dores da minha emoção, que curo como posso:

Sozinho, inábil, faltoso, incapaz e sem emoção.

Mas, nas dores banais,
Um analgésico comum é suficiente.

Wednesday, May 04, 2005

Escapei por pouco

Em princípio pensei que era amado, querido. Mas tudo era um golpe. Mora só. Trabalha Longe. Faz Plantão. Ganha bem. Perfeito.
Saio da casa da minha mãe, com meu filho e me junto.
Mas, quis o destino mostrar o verdadeiro lado da puta.
Tudo desaba.
E o Poeta sente dor, o otário.

Friday, April 29, 2005

Almas Antigas

ALMAS ANTIGAS

Para Zé Edu.

Uma letra esquecida no Rio
Que há 30 anos se formara
O Sonekka, com talento, redescobriu
E fez dela música rara.

No verão de 73 eu, com 18 anos,

Nem pensava em te conhecer
Que o complemento viria da tua existência
E o nosso encontro recente foi providência
Eu, já de tarde e você no alvorecer

Mas quem pensa no futuro faz planos:

Agora que nos abraçamos em cumplicidade
No Crowne, no mundo, na maior cidade

Vamos por lenha na vida, sem enganos

Como o fogo que brota das cantigas,
A gente se reconhece em almas antigas.


Reyex.

Um ano

UM ANO

Para Ana Cláudia

Só perguntei se era mesmo preciso
Não pensei que um dia isso ia acontecer
Nem imaginava assim: tão definitivo
Fechei a porta e, quieto, esperei anoitecer.

Pensei: sou forte. Não vou ligar pra isso.
Mas a noite insistiu em recusar o amanhecer
Meus olhos lacrimejaram: apenas um cisco
Disse a mim em silêncio: não se permita sofrer.

No dia da inconfidência faz um ano
Espero não ter havido coincidência, nem engano
Mais um filme de terror que no final eu morro

Vou ficando para trás no tempo, sem socorro.
Quem sabe é teu espírito aquariano,
Que quis me amar, mas não quis seguir o plano.


O.Reyex.

Uma doce presença

Uma Doce Presença

Osmar Reyex

Viver sozinho é muito chato, italiana.
Mudo, sem TV e, pior de tudo, insone.
A noite fica longa, fria e engana.
Em minha cabeça sopra um ciclone.

Queria te ligar ramal-a-ramal
Te beijar através de um videofone
Numa cúmplice ligação “distant call”
E pedir: “don’t leave me alone”.

Pensando assim, tudo fica por um triz.
Está claro que falta quem me ame.
Mas não alimento ilusões, minha atriz

Basta, no calor, pedir que eu te abane.
Porque do que é bom sempre peço bis,
Eu espero tua doce presença, Eliane.

Thursday, April 28, 2005

Osmar Reyex

Artista Plátisco e Poeta. Paulista de Ribeirão Preto. 15 de Janeiro de 1955. Uma Filha. Um neto. Moro em Santos, no Bairro do Gonzaga. Rosacruz, Maçon e Martinista. Apaixonado pelas coisas boas da vida.