Tuesday, July 31, 2007

Reflexão VII-i

Autoria: Sonekka.

O poeta, no que consta, é um tonto
No boteco onde bate ponto
Todo mundo reclama
Enquanto o tonto declama

Então desiste do verso e bebe
Aí sim profissional de respeito
Segui-lo nos copos ninguém se atreve
Talagadas e talagadas de despeito

Ninguém decifra o poeta
Porque no fundo todo mundo sabe
Que ele está onde não cabe

Uns o chamam de belo,
Outros chamam de covarde
O poeta diz, mas não faz alarde.

Reflexão VII

O poeta, todo mundo sabe, é o usuário
Do banquinho da ponta do balcão
Todos os dias, no mesmo horário,
18 e 45 no bar do João.

É lá que bebe cerveja depois do trabalho
Ao lado de vagabundo e trabalhador
Pedreiro, traficante e quebra-galho.
E “Gibi” que é profissional tatuador.

Sardinha é o cara que serve a cachaça
De olho na rua, avisa quando a gostosa passa
Nas mesas rola jogo de dominó e carteado

Sábado tem rifa de costela e frango assado
Enquanto a carne gira, cheira e assa
A gente mexe com a mulherada que passa

Monday, July 30, 2007

Reflexão VI-i

Autoria: Sonekka

O poeta, todo mundo sabe, é um enganador
Engana-se a si mesmo na ânsia de desabafar
Ainda sonha o que seu desabafo vai causar
Não ata e nem desata os nós de criador

Todo hora é a mesma ladainha
È o relógio cuco da própria solidão
Todo dia murmurando no espigão
E se auto repete feito a avezinha

Mas nunca faz nada em vão
Atrai os louros de outros lamentos
De outros tantos que lamentarão

O poeta é um ser fantástico
Quando a platéia se identifica
Ele solta seu riso sarcástico

Reflexão VI

O poeta, todo mundo sabe, é um operário.
Espreme os miolos no trabalho de escrever
Mas suas idéias não lhe trazem numerário
Parece que nasceu criativo só pra sofrer.

Todos os dias acha que perdeu a inspiração
Só porque às vezes não lhe ocorre idéia.
Desanda a escrever mais por transpiração
Porque sabe que quantidade faz epopéia.

É um ofício duro, solitário e sombrio
Não atrai fama nem fortuna fácil
Só clausura em longas noites de frio.

Vez ou outra alguém elogia o pancrácio
Que todo se estufa fingindo um fastio
E pensa até que é o “Barão” do palácio.

Friday, July 27, 2007

Reflexão V

O Poeta, todo mundo sabe, precisa de vocabulário
Para expressar de forma acurada suas idéias
Por isso lê enciclopédia, bula de remédio e dicionário
E vai animando os inanimados em prosopopéias.

Explicita palavras que a média não usa
Em sílabas contadas, rimadas ou não
Trilhões de vezes das hipérboles abusa
Mas prega procura por parar com a aliteração.

Nos textos, figuras caras como a elipse
Vai escrevendo os escritos nos pleonasmos
Rei das palavras, busca o gênero na silepse.

Busca pela síntese da antítese na anáfora
Busca assonância, busca consonância
E faz de tudo uma grande metáfora.

Wednesday, July 25, 2007

Reflexão IV

O Poeta, todo mundo sabe, é o adversário
Preferido dos executivos no escritório
Só porque o cara, sendo funcionário,
Gasta tempo produzindo texto masturbatório.

Vai trabalhar ô poeta bobo sonhador!
O chefe já te olha como despesa
E mandou vasculhar teu computador
Pra ver o que tu fazes na empresa.

Vai. Larga essa compulsão idiota!
Vai fazer algo mais produtivo,
Pra pagar o que deve ao agiota.

No competitivo ambiente corporativo
Não há lugar pra essa arte canhota.
Nem pra teu comportamento abusivo.

Tuesday, July 24, 2007

Reflexão III

O poeta, todo mundo sabe, é um perdulário.
Sempre gasta muito e ganha pouco.
Em “merrecas” se conta seu salário.
E deixa o gerente do banco feito louco.

Também! Quer viver de sua escritura!
No Brasil, que não dá bola pra poesia.
Melhor faria se arrumasse uma sinecura
No governo, onde dinheiro fácil é primazia.

Seria preferível que tivesse outros talentos
Bom de bola ou cinismo de político
Assim trabalharia pouco e ficaria rico.

Mas que nada, vive cheio de tormentos.
O futuro não lhe traz bons alentos,
E a vizinhança, dele, já faz fuxico.

Monday, July 23, 2007

Reflexão II

O poeta, todo mundo sabe, é um ordinário.
Acorda tarde, não faz a barba,
Compra fiado, vive de rebarba,
Peida fedido e bebe pra caralho.

Da vida não sabe nada e baba
Com as modelos da Fashion Week
Trancado em casa bebendo catuaba
Só sai pra ir ao velho alambique.

É um banana que escreve muitos
Poemas que só ele acha sentido
Todos bobos, bestas e gratuitos.

Vive desse jeito, vendo filmes pervertidos
O tempo passa e seus escritos,
Sem quem leia, são todos esquecidos.

Friday, July 20, 2007

Reflexão I

O Poeta, todo mundo sabe, é um otário.
Escreve todos os dias e não aprende.
Quer receber, dos textos e contextos, salário
Numa graforragia que a muitos ofende.

Mas não é ninguém. Não é nada.
Sem a pessoa principal da história:
O leitor, que de forma concentrada
Lê seus escritos e busca na memória,

Suas recordações, passadas ou pretendidas
Bem diferentes das do poeta, coitado,
E, ao texto, enriquece com suas emoções sortidas.

O poeta acha que a arte é sua, equivocado.
Mas é do leitor a criação, as imagens vívidas.
Essa é a verdade nua e crua, seu iletrado.

Monday, July 16, 2007

Ponto Cego

Eu respiro um azul incolor
Que, na escuridão do meu corpo, vibra meu sangue
Vermelho sem luz, negro.
O Sol ilumina o marrom da minha íris
Injetando um universo de cores
Todas distintas, graduadas ondas vibrantes,
Que eu vejo no meu jeito único de decifrar...
Mesmo de olhos fechados.

E sei que o sonho do cego é colorido
Glauco Mattoso me disse.

Tuesday, July 10, 2007

Roteiro

De manhã, seis e meia, pé na areia.
Ida e volta até o canal 6...
Ouvindo o mar, vendo a loirinha, a portuguesinha
A personal, Mara...
Depois, banho e a pé pro trabalho.
Almoço em casa.
À tarde, quinze pras sete, no bar do João, sai bolinho de bacalhau.
Quentinhos. Como uns 4 com pimenta.
Refrigero com cerveja...
Depois, Galeria AD Moreira.
As saideiras da Adelaide:
Meninas que passam, saindo do trabalho no Shopping.
Já é noite, vou pra casa.
Privar comigo mesmo minha solidão...

Wednesday, July 04, 2007

Na Trave!

Melhores que as mulheres, eu sei que não.
Vestidas são lindas garotas muito perfeitas.
Enganam e desfilam, no sexo, uma ilusão.
Nuas, destransformam e, no detalhe, são desfeitas.

Um amigo piadista imaginava “vantagens” das piranhas:
Não têm TPM, não menstruam, trocam o pneu do carro.
Ajudam na briga, saem na mão, dão porrada e tiram sarro.
Fazem serviço pesado e, de noite, dão o cú sem manhas.

Deixemos de lado o triste preconceito mofado!
Nasceram homens, mas resolveram ser mulheres...
Se a natureza não permite, por outro lado,

Eles não estão nem aí pro eleitorado
Emprestam do lado feminino os caracteres,
E saem por aí, torcendo pro “timão” adoidado...

“timãããooo, ê, ô...”

Tuesday, July 03, 2007

Pegada

Gosto de judiar um pouco.
Pouquíssimas reclamam.
E reclamam baixinho, com dengo.
Algumas confessam gostar, depois, rindo.
Outras ainda pedem mais e xingam...
Pra isso, não se pode dar receita.
Quem sabe, vibra com forte emoção.
Sabe por intuição.
Quem não sabe, humilde, pede pra aprender
De quem ama e aprecia sofrer com tesão.
Precisa ter sensibilidade.
E sensibilidade precisa.
Atenção num carinho especial.
Diferente e mais intenso.
Mais profundo e ardente.
Para não ser só mais um outro igual que passou,
Sem deixar marcas.

Monday, July 02, 2007

Sabores que aprecio.

Minha cerveja cheia, coberta
De mosquitinhos cachaceiros,
Não dá pra dispensar, já aberta,
Espanto e bebo tudo sem rodeios.

Mosquito de cerveja é cerveja.
Assim também é com a goiaba.
Como a fruta, bebo a cerveja
E o álcool limpa a minha baba.

Boceta eu gosto de chupar
Não há sabor capaz de igualar
Mas aí, não misturo a iguaria

Nessa hora me concentro pra apreciar
E não aceito intruso no par,
Nem numa grossa putaria.