Thursday, May 02, 2013

Sábado


Acordo tarde com ela do meu lado.

Tomo um café da manhã reforçado.
A noite foi longa e preciso descansar.
Sigo o rumo do quiosque à beira-mar.

O povo conhecido vai chegando
Sol e cerveja vai nos animando
Vamos organizando um churrasco.
A caixa de bebida vai juntando casco.

Neguim traz pandeiro e cavaquinho
Violão na mão sentado no banquinho.
O batuque come solto o dia inteiro.

Mas tem uma hora que a folia cansa.
O jeito e tomar um banho de mar.
Ir para casa, namorar e relaxar.

Monday, April 29, 2013

Os gringos


Não é a primeira vez que esse casal aparece aqui na Divisa. Noruegueses, ele ainda fala um pouco de português. Ela, apenas algumas palavras. Adoram uma cachaça e uma droga. Cocaína, maconha. Desconfio que eles sejam traficantes internacionais, visto a intimidade que têm com os donos do morro do José Menino. Vivem em conflito, brigando. E ninguém entende o que eles dizem um ao outro. Mas, o Djavan, negão local, é chegado na gringa. O gringo desaparece morro acima, atrás de droga e meninas fáceis e Djavan resolve consolar a gringa. Os dois bêbados. Ela tenta se fazer entender em inglês mas não consegue. Djavan não fala inglês. A conversa segue: ela grunhindo uma língua cheia de sons sibilantes e o negão falando português com sotaque, imaginando que com isso ela o entenda. Mas, a comunicação tem os seus mistérios e Djavan conduz a gringa para o seu cafofo que fica no pé do morro, depois da linha da máquina, encarregando o gaguinho para avisar caso o gringo desça o morro. Mas, nesta noite, o gaguinho teve de sumir porque a barra pesou e a Divisa ficou lotada de viaturas da polícia. O gringo desceu antes da hora e deu merda. Queria saber onde estava sua mulher. Interrogou inutilmente o pessoal do bar do Regis, foi até a barraca do churrasqueiro na praça, foi até o quiosque na praia e nada. Voltou para o bar, sentou-se numa cadeira na porta e, visivelmente irritado, ficou vigiando a rua, bebendo Dreher puro. Ficou quieto e, vencido pela bebida cochilou, dormiu. Djavan apareceu na esquina com a gringa. Viu o gringo dormindo, chegou devagar, fez um sinal para a gringa sentar-se numa cadeira no fundo do bar e sentou-se perto dela. Ficaram lá bebendo cerveja. Então o gringo acordou com a voz da mulher e nervoso, levantou e começou a brigar gritando em norueguês com a mulher, que respondia gritando também. Então o Djavan levantou a mão espalmada para o alto,dizendo:

- Calma aí ô canadense. Tá Nervoso?

E o gringo:

- Onde ér que voceis tava com ela?

O Djavan, cruzando os braços e meneando a cabeça, diz:

- Muito bonito, hein? Ninguém saiu daqui! Ela foi no banheiro, você não procurou direito e
depois veio dormir aqui...

- Tá mi tchirano, negon?

- Tirando eu? Tá doidão é maluco?

- Eu non ser trouxa. Eu tchi mato negon.

Aí a gringa se levanta muito nervosa e grita:

- Párra! Párra já! Matar meu negon non. Ele bom amigo, intendhi?

E sai do bar, arrastando o gringo falando norueguês.

Djavan olha pro pessoal e diz:

-Eu hein! Põe uma cachaça aí Regis. Copo cheio que hoje já falei até alemão.

Sexta Feira




Dia com sabor especial
É véspera de Sábado.
E já estou preparado
Para a praia com o pessoal.

Mas ainda tem o dia inteiro.
E pode ser que o tempo mude.
Vamos cuidar do financeiro
Com juízo e mantendo a atitude.

Acabou o trabalho, é hora da cerveja
Com alguns dos colegas da empresa.
Beber pouco e manter a chama acesa

Porque mais tarde tem a namorada.
Com ela a noite é completa e benfazeja.
E sou muito mais feliz com a amada.



Saturday, April 27, 2013

Quinta Feira


Se ontem eu não exagerei,
Tive controle e moderei,
Hoje é um dia a ser vivido:
O trabalho segue produtivo.

Mando flores para ela agradecido.
Mantendo o relacionamento positivo.
Pois mulher carinhosa é bom demais
E cuido bem para merecer mais.

Esta noite o encontro é diferente:
Comigo mesmo, O reflexo e O silêncio.
Num exercício mais profundo e silente.

Vou dormir em Paz Profunda.
Com a alma vibrando diferente.
A Egrégora, no sono, comunga.

Tuesday, April 23, 2013

Quarta Feira

Agora o corpo já acostumou
A levantar cedo e disposto.
Sem beber, a ressaca acabou.
O trabalho flui e dá gosto.

No almoço, feijoada e cerveja
Já adiantando o fim de semana
Comemorando sei-lá-o-que-seja.
Aquele negócio que rendeu grana.

Fazer planos com a namorada
Um restaurante e a noite esticada
Um carinho pois não sou de ferro.

Nessa noite dificilmente eu erro.
A deliciosa companhia da amada
E depois o futebol com a rapaziada.

Saturday, April 20, 2013

Ônibus Lotado


Ônibus Lotado.

Uma e trinta da tarde. Já aguardava o ônibus há uns vinte minutos. Seguiria da Presidente
Wilson em São Vicente, pegaria a avenida da praia do Itararé, Divisa, em Santos, José Menino, Gonzaga, Ana Costa até a Carvalho de Mendonça. Reunião importante, estou atrasado. No ponto de ônibus vários alunos de uma escola próxima, algumas senhoras, meninas de uniforme. Ansioso, fiquei atento a todos os coletivos que entravam na avenida por uma travessa distante uns 150 metros. Então lá vem o casal. Ela vestindo uma calça cinza colada no corpo. Desenhando integralmente a bocetinha. O capozinho de fusca. Pararam a um metro de mim. Ela percebeu que eu olhava. Mulheres têm esse “radar” e sabem que chamam a atenção com esse tipo de vestimenta. Parece uniforme. Todas com a roupa marcando o corpo. Ressaltando as reentrâncias. Umas lindas. Outras expondo os defeitos físicos, bundas murchas, abdomens grossos. Aliás, essa aqui tem uma bunda bastante pronunciada, parece sofrer de lordose, mas tem uma gordura abdominal quase equivalente ao traseiro. Ficou conversando com o namorado, trocando carinhos. Olhou pra mim ligeiramente e cochichou ao ouvido do namorado que contou cinco segundos antes de virar-se para me ver. Depois, deu um passo para o lado, escondendo a calipígia namorada. Fiquei atento ao ônibus e finalmente lá veio ele. Coincidentemente, também era o deles. Deixei algumas senhoras entrarem primeiro, depois ela entrou com ele em seguida, sem me olharem. Deixei ainda mais uma mulher entrar e então fiquei nos degraus e a porta se fechou por trás de minhas costas. Avancei para a roleta seguindo o fluxo dos passageiros que iam se posicionando nos espaços vagos. Ônibus lotado. Eles estavam em pé do lado direito, encostados nos bancos ocupados. Gente de um lado e de outro. Impossível não haver contato físico. Ele me viu e, acredito que imaginou que eu tiraria uma casquinha de sua namorada, porque colocou a mão espalmada na bunda proeminente dela. Eu pensei em evitar o contato com eles, mas vi a mão dele descendo da cintura para a bunda e resolvi que não. Literalmente, um sujeito cuzão, do caralho. Lentamente forcei a passagem por eles e fiz com que ele sentisse no dorso da mão o meu volume. Felizmente em repouso. Ele virou rápido o rosto me olhando sério e inconformado. Achei que ia dizer alguma coisa, mas não disse nada. Que é que eu posso fazer, meu camarada, ônibus lotado... pensei, buscando me acomodar em um espaço vago mais à frente. O coletivo foi esvaziando e eles sentaram em um banco. Segui em pé. Na Ana Costa o casal desceu. Na calçada, ela, arrumando o cabelo, olhou pra mim por baixo do cotovelo do braço que prendia a raiz do seu rabo de cavalo e pareceu sorrir...

Tuesday, April 16, 2013

Terça Feira


A segunda conta do meu rosário.

Faltam ainda quatro dias inteiros
De trabalho árduo. Um calvário
pleno dos problemas costumeiros.

Se ao menos houvesse outro jeito...
Mas não consigo viver da arte.
E essa é a dor do meu peito
Que talvez um dia me enfarte.

Não tive meu talento muito valorizado.
Poucos compram meus trabalhos
A maioria investe em pintor consagrado.

Não posso deixar de trabalhar,
No comércio para pagar as contas
e com arte para poder respirar.

Wednesday, March 20, 2013

Segunda Feira


Começo a semana mal humorado.
É duro ter de aguentar o patrão.
A gente se sente desanimado.
E o pior de tudo é o ressacão.


Longos dias pela frente:
Compromisso, trabalho, contas.
Desafios, cobrança e metas...
Queria que fosse diferente:


Escrevendo no silêncio da noite,
Preparando um prato saboroso
ou pintando num ateliê espaçoso.


Longe da pressa da cidade,
Dedilhando as cordas do violão,
Isto me daria a maior felicidade.

Thursday, February 14, 2013

Medos Contemporâneos

Meus medos não são raros
Da minha janela vejo o mar
E sinto vontade de me atirar
Lá embaixo sobre os carros

No banco depois do saque
Fico desconfiado do segurança
Que parece pronto pro ataque
Não acredito em sua vigilância

No sinal parado, o malabarista
Não me convence que é artista
Fecho o vidro e pressiono a trava
Antes isso não me preocupava

Mas depois dos noticiários
Com seus ataques diários
Tenho medo da minha sombra
Até estar vivo me assombra

Saturday, February 09, 2013

Essência

Eu busco a tua essência
O adensamento de tua alma invisível.
O pensamento complexo, indizível
A gravidade que no teu corpo
comprime quem tu és em ti mesma
Em sumo condensado de mulher.
Essa profusão de gotas de mar em teu suor.
As volantes do ar que respiras.
Do fogo evanescente do teu calor
As essências de que são feitos os perfumes.
Das cores que se juntam na cor branca
Do meu amor por ti que desagua
A essência desse amor essencial
Consumido na espuma
Da pastilha efervescente na água.
O ar comprimido
O céu escondido
no infinito universo de estrelas no céu.

Friday, February 08, 2013

O problema das conversas ao celular.

- Eu vou terminar com você, não porque eu quero, entendeu?
Passou por mim falando ao celular.
-Não é porque eu quero, entendeu? Vou terminar com você...
E, depois não deu mais para ouvir a conversa...
Ainda pude avaliar a imagem da pessoa que se distanciava na rua. Baixinha, cheiinha, blusa branca, calça preta mostrando os ressaltos do elástico da calcinha na bunda. Pouco atrativa. Voz desafinada, cheia de altos e baixos.
Fiquei imaginando com quem ela falava. Talvez uma pessoa sendo descartada. Relacionamento amoroso? Talvez. Sei lá. O problema das conversas ao celular. Nossa exposição quando falamos, seja de que assunto se trate. As pessoas em volta ouvem, participam da conversa, ficam sabendo detalhes. Nossos encontros, horas, locais. Nossas mentiras: “estou em...” e o local é completamente diferente. Estou sozinho, sim, pode falar....cheio de gente em volta...O celular nos expõe e nos torna inconvenientes. No meio de um assunto, toca o aparelho e a pessoa atende olhando em nossos olhos e, em seguida, nos dando as costas. Pior são os que permitem acesso à internet. A pessoa anda pela rua olhando para a palma da mão...Conversam simultâneamente ao vivo e virtualmente...A mim incomoda muito esperar o término de uma conversa que interrompeu a minha. Li, certa vez, um texto sobre a ética no uso dos telefones celulares. Desligar durante uma reunião, durante o almoço, o jantar, no cinema...As pessoas precisam ser educadas no uso desse aparelho. Deve haver um nome em psicologia para essa dependência atroz do telefone celular. Quem souber me fale.(*) Há, digamos, 40 anos atrás, quando não haviam celulares, we manage just the same...e tudo era mais tranquilo. Para telefonar, ia-se à farmácia ou padaria. Telefone em casa pouquíssimas famílias tinham. A telefonia evoluiu por imposição da indústria automobilística que no inicio de suas operações no País, necessitava de comunicação rápida e eficaz. No breve século passado, o desenvolvimento foi incomparável. Séculos anteriores começaram e terminaram quase sem novidades. Exceto o século XX. Muita coisa mudou. A tecnologia se desenvolve a cada dia. O que era novidade há 3 ou 4 meses, já não é mais... Mas a capacidade de adaptação do Ser Humano não parece ter a mesma velocidade. Tenho o meu celular também. Tenho aparelhos com funções que jamais usei e outras que sequer imagino que existam. Uso o liga e desliga. O mesmo botão. O timer da televisão que me é muito útil. E mais nada. Deixo para quem curte esse universo tecnológico a conversa da mocinha: vou terminar com você, não porque eu quero. Entendeu?


(*) NOMOFOBIA (informou meu amigo Fabio Stefani.)

Wednesday, February 06, 2013

O problema das embalagens descartáveis

Comprei uma latinha de Itaipava na mercearia da Camilla. Sai mais barato que no bar. Só que lá não tem mesa e o jeito é sentar no murinho do quintal ao lado, sob a sombra generosa de uma castanheira. Retiro o selinho da lata, limpo com ele a colinha que persiste no bocal e bebo um gole longo e gelado. Fico em silêncio até que chegam cinco meninos magrinhos... sem camisa, bermuda até as canelas, descalços, cada um com sua prancha.
-Aê, aquela pranha custou uma moeda. Já paguei metade.
-Aê, diz o outro, perdi minha correntinha no mar. Saca quando ela fica pra trás? Pensei que tava assim, pus a mão e já era! Perdi.
-Eu tenho uma pra vender.
-Traz aí. Leva lá em casa que eu quero ver.
-Vai comprar o bagulho! Diz o maior deles para o menor, com 10 reais na mão.
O menino entra na mercearia e volta com uma Dolly dois litros, um pacote de bolacha doce e cinco copos descartáveis.
Um abre a garrafa e um outro rasga com os dentes o pacote de bolacha ignorando para que serve a fita vermelha com abinha na embalagem.
Começam a comer enquanto o menor serve a bebida
-Aê, não sou garçom não seus otários do caralho!
Os outros riem.
-Porra, beberam o meu bagulho. Pega aí quem quiser!
E larga a garrafa no chão.
-Meu, tá ligado naquela mina da praia hoje?
-Já catei, seu mané! É lá de cima da caixa d”agua.
O maior pergunta:
-Tá com o bagulho aí?
-Tô. Responde o menor.
-Passa.
Pega uma trouxinha, guardanapo de papel e começa a enrolar um baseado.
-Catou o caralho, mano. Ela falou que não.
-Tá, seu otário, e tu acreditou. Catei. Pronto.
-Foda essas novinha. Tudo catada. Depois chega junto querendo fumar.
Cigarro pronto, olham para mim pela primeira vez.
-Bóra lá em cima fumar! Diz o maior.
-Bóra! Concordam os outros.
E saem os cinco conversando, deixando no chão a garrafa vazia, a embalagem da bolacha e cinco copos descartáveis.