Wednesday, December 31, 2008

Reflexão LXXXII (a entropia)

Você não pode vencer;
Você não pode terminar empatado e;
Você não pode abandonar o jogo.

Vamos envelhecendo sem perceber.
Viver tem este custo, muito justo.
Ninguém escapa de um dia falecer.
Talvez de bala ou, então, de susto.

Se me fosse dado o poder de escolher,
Preferiria morrer dos meus excessos.
Por ter amado intensamente a mulher
E ter querido, da arte, todos os sucessos.

Tudo que existe se desgasta e acaba, fim.
Assim é a natureza e é bom que seja assim.
O amor finda. Deixa de existir quem se deseja.

Sem amor, desaparece aquele que verseja.
Nada se pode fazer, o universo todo é assim.
O consolo disso é que tudo termina no fim.

Tuesday, December 30, 2008

Reflexão LXXXI (a sinceridade)

Nem sempre falo o que penso.
A maioria das vezes reflito bastante,
Mas não falo. Deixo suspenso.
Este é meu jeito mais constante.

Sinceridade demais nunca agrada.
Se for pra elogiar, pode parecer falso.
Pra criticar, é melhor a boca calada.
Desta forma não crio nenhum percalço.

Da minha vida particular, nada realço.
Dela tenho eu que cuidar e mais ninguém.
Só eu sei aonde aperta o sapato que calço.

Escolho bem as palavras, com todo cuidado,
Porque sei o imenso poder que elas contém.
Muita sinceridade pode te deixar enredado.

Monday, December 22, 2008

Reflexão LXXX (nosso natal)

Nosso Natal é bastante diferente...
Papai Noel muito agasalhado
Nesse verão extremamente quente,
Fica suado e acaba mal humorado.

Trabalha para a loja comercial
Tocando sineta e anunciando
Mercadorias em ofertas de natal
E a molecada de rua afastando...

Os indultos e os assaltos crescem:
Bandido e sociedade se merecem.
A hipocrisia aflorada libera o ladrão.

A voz no telefone pede colaboração
Os exploradores não esmorecem...
E da solidariedade alheia se abastecem.

Friday, December 12, 2008

Reflexão LXXIX (o meu amor)


Sou órgãos e eventos
que me perfazem e identificam:
Meu corpo.
Minhas iris.
Minhas impressões digitais.
Meu nascimento.
Minha morte que virá.
O meu cheiro...
Os sonhos que sonhei
E que não me lembro...
Impressões que se acumulam
Em minha memória insondável
E me fazem ser assim como sou...

A vida que tenho.
Outras vidas que tive.
Vidas que anexei.
Vidas que amei...
Meus desejos expressos e contidos.
Meus erros que se acumulam...

E esse amor profundo, imenso e perfeito,
Que tenho por mim mesmo.

Wednesday, December 03, 2008

Reflexão LXXVIII (esquecido)

Nós nos conhecemos há muito tempo.
Você é que não lembra.
Você já foi princesa
E eu o seu herói.
Você já se matou de amor
E depois eu me suicidei.
Você foi a mais bela da terra
E eu te raptei.
Com um beijo,
Fui eu que te acordei
De um sono encantado.
Na imensidão do tempo
Persegui a sua vida preciosa.
Você permaneceu na minha memória
Mas deixei de existir para você.
Fui esquecido...

E agora, você fica aí
Na mesa desse bar,
Me olhando curiosa,
Querendo saber quem eu sou...