Poesia Madura

P/ Sonekka

Poesia madura, não.
Os meus versos cheios de ingenuidade e sonhos
Refletem a minha alma-criança.
Sem nenhuma experiência.
Sem a brutalidade adulta.

São também meus desabafos de amor,
De desilusões de todos os tipos.

Meu versos são frutos verdes
Amargos e adstringentes.

E meu coração imaturo
Ainda acredita
Que o verde é ainda esperança.

Mudanças

Pra muita gente eu sumi no mundo.
E prefiro assim.
Sinto saudades, mas não sei se sou lembrado.
Também sinto alívio de ter deixado para trás tantos
enganos, erros, remorsos, faltas sem conserto.
Melhor assim.
Parece uma outra vida.
E deve ser.
Só que não é melhor ou pior.
É igual.
O que mudou foram as personagens.
As falas são iguais e, de vez enquando, de trás pra frente.
Mas, de verdade, tudo é a mesmíssima coisa.
Os velhos remorsos, erros, enganos e faltas propositais.
Não tenho conserto.
Nem quero.

Nem Sempre

Nem sempre
Vou te amar tanto.
Nem pra sempre.

Nem sempre
Esse amor vai existir.
Nem pra sempre.

Nem sempre
Vou sentir a tua falta.
Nem pra sempre.

E eu,
Nem sempre
Vou ser assim:
Pra sempre ou nunca mais
Ou então,
Pra sempre e mais um dia.

GPS

Vou rastreando seus passos pelas ligações que você me faz.
Cada orelhão, cada esquina.
Vou traçando um mapa pela cidade.
Com ciúmes de tudo: das pessoas, dos lugares distantes de mim.
Sem saber como te alcançar, louco por te abraçar.
Mas é sempre você quem decide quando me encontrar.
Quanto tempo vai ficar e o que vai rolar.
E assim, pela linha do telefone, você traça o meu destino.

Feliz com você ou aborrecido sozinho.

Gosto de Noite

Eu não sei o que fazer comigo
Se agora perdido
Sinto um gosto de noite...

Eu não vou chorar de novo
Já cansei desse fado
Em que estou sempre errado...

E pra quê tanto sofrimento
Se agora é o momento
De enfrentar nova vida...

Céu & Mar

Eu queria merecer um olhar seu assim:
Cheio de carinho,
Cheio de saudade...

Você olha em outra direção:
Parece que é para um horizonte que se distancia.
Um ponto entre o céu e o mar...

Eu queria merecer um olhar seu assim:
Cheio de paixão,
Cheio de futuro...

Nessa imensidão de espaço,
Tento adivinhar seus pensamentos...

E na tentativa, sem saber de nada, sou um vento sobre a água.
Na superfície, leve, imperceptível e sem conseqüências...

Distração

(Música de Fernando Lee & Osmar Reyex)

O sol então parou no horizonte de se por
Em outro lugar estacionou o amanhecer
O tempo congelou o que eu queria esquecer
sobre mim, sobre você e o que ficou
Restou apenas o vazio
O seu rosto na cabeça, bem no meio desta sala de jantar

Eu tô voltando pro nada
Nem sei onde eu possa parar
Mas, deixa que o tempo apaga a gente
Tomara que seja capaz
Quem sabe eu me esqueça
E mude essa letra
Tomara que eu mude demais.

Ressaca

Tenho tanto medo de uma recaida.
Estou tomando outra.
Na rebatida.
Tudo dói.
Inclusive e principalmente a alma
que agora é lama.
Meu corpo do avesso abraça a privada
Minha amiga, fria e salvadora.

No espelho, um cara estranho me olha.
Olho vermelho, cara amassada, olheiras fundas.

Água no rosto, respiro fundo e o estômago reclama.
Outra cerveja por cima.
Pra alimentar.

Beber, só mais tarde.

Pra ter coragem de te encontrar
E dizer, indo contra tudo que me propus,
Que te amo ainda.

Seu Jeito

Você é assim.
Vai ser sempre assim.
Você não muda.
Você diz que me ama do seu jeito
Pra mim não serve.
Não quero assim.

Eu odeio dizer
Odeio admitir
O problema sou eu.

Você me trai
Outra me distrai
E não te ligo mais.

Um som que lembra...

Ouço na rua um som que evoca tempos antigos.
Vejo um amolador de facas com seu cavalete, tocando um flautim.
Do grave para o agudo, segura... e do agudo pro grave, segura...
Uma figura incomum hoje. Parece uma lembrança...
Mas é só resquício de uma infância que ainda existe em mim.

Silêncio

Penso que sei.
Penso que fui.
Não penso direito.
Fico suspenso...

Um fiozinho entre eu e o universo.

Não é nada.

Motivos

Te amar, te amei.
Por tudo e por nada.
Por fim...
Por todas as vezes que senti tua falta.
Por todo brilho estranho que vi nos teus olhos.
Por ter visto o que vi. Tuas atitudes sem escrúpulos.
Por todas as vezes que me senti ridículo, usado.
Por todos os micos que paguei.
Por todas as tuas mentiras que descobri.
Cedo ou tarde.
Por todas as vezes que não dormi, pensando...
Por esperar.
Em vão.

Por todas as razões que não devia.

Assim, hoje, o tempo ainda passa muito devagar pra esquecer.

Dia Internacional da Mulher

Você foi levada embora.
No calor, trancada, sem ver a viagem.
Aqui ficou a dor, sua imagem na minha alma.
Contei cada minuto, imaginando seu caminho, quando soube que você tinha ido.
Sem saber pra onde,
Parte de mim também foi com você.
Fiquei. Um pedaço de mim ficou.
Perdi a noção das pessoas na rua, dos carros, dos prédios...
O céu sufocante parece um tecido fino prestes a rebentar.

Um sol negro aqueceu a cidade.
Agora vazia, sem sentido, sem razão.
O mar ficou em silêncio.
Definitivamente.