Thursday, May 26, 2005

Nem sempre foi assim.

Na verdade não sei explicar.
Talvez a receita seja:
carência, baixa estima e memórias de outras relações que ainda não cicatrizaram.
Aí vem esta dor de estômago, o sofrimento indescritível e abominável.
A imaginação criando os cenários mais terríveis de infidelidade explícita.
Tudo fica reduzido, circunscrito ao nível animal, apetites, paixões, violência.
E o pensamento fica estagnado em um único ponto focal: a merda.
O mundo é uma merda.
Os amigos são uns merdas.
O bar é uma merda.
A música é uma merda.
A vida é uma merda.

Mas nem sempre foi assim...

Teve vezes que a merda da namorada parecia chantilly...

Tuesday, May 24, 2005

O Tempo

O tempo é meu aliado.
O tempo me protege,
me ajuda a esquecer.
O tempo cicatriza, solda o osso, cura a alma.
Faz da ferida uma lembrança que não dói mais.
O tempo me salva, me distancia...
O tempo domina a vida e cada coisa vem a seu tempo

Friday, May 20, 2005

Bandida

Teu mundo não tem noção do meu.
Meu mundo não entende o teu.

Não gosto de conviver com o sofrimento.
Não acho normal o crime, o tráfico, a prostituição.
Detesto pagode.
Detesto teus sumiços. O celular desligado.
Noites insones.
Uma carência abismal cheia de ressentimentos gelados.
Uma dor sem jeito que me põe fraco.

Você já esteve presa. Fugiu e não quer voltar.
Pra mim é tudo novidade.

Estou preso numa cela emocional.
Não consigo fugir e quero voltar.

Wednesday, May 18, 2005

Pseudo Soneto

Eu não sei fazer soneto
Não sei contar o metro
Começo por baixo ou pelo teto?
Sinto medo e não me meto

Parece coisa difícil, um espeto
Mas deve ter um truque certo
Entortar a palavra de modo correto
Deve ser assim que sai soneto

Mas para quem já tentou
Quase tudo na vida
E nunca no alvo acertou

Não custa tentar, mesmo perigoso
Se me perder e ficar sem saída
Peço socorro pro Glauco Mattoso.

Tuesday, May 17, 2005

Em Palavras

Entrego em palavras
o teu silêncio que me lê.
Basta-me a tua música impessoal.

Friday, May 13, 2005

Preto e Branco

Uma foto antiga e ampliada na parede.
Tirada de cima de algum prédio
de uma praia do Rio de Janeiro.
Reconheço por causa dos morros na linha superior.
A praia coalhada de gente.
Pequenos perfis negros.
Talvez, todos mortos já e sem saber que foram fotografados.
Carros antigos numa avenida sem sinalização nenhuma.
Com certeza, todos já viraram sucata há muito tempo.
Um sol ancestral.
O mar de sempre batendo.
Ainda a mesma praia que existe hoje.
Aqui, este “instantâneo” para sempre,
Já começa a ser comido pelos cupins.

Thursday, May 12, 2005

Eu, hein...

Eu escrevo muitos eus nos meus poemas.
Mas é porque eu me conheço melhor do que às outras pessoas ou coisas, ou assuntos...
Eu, na verdade, não quer dizer nada.
Apenas um pronome que não reflete
propriamente uma pessoa.
Não sou egocêntrico, egotista ou egoísta.
Sempre compartilhei minhas coisas, idéias e até mulheres.
Dividi meu vinho, meu pão e meu dinheiro.
Dediquei meu amor até para quem não me quis.
Por isso, fui me diluindo no mundo e hoje estou só.
Mas não me importo.
O Mundo inteiro ainda está disponível, como eu.

Wednesday, May 11, 2005

Espera

A luz permeia os cantos do quarto, coada pelas frestas da janela.
Luz lunar.
Reflexo que seduz as sombras da noite e cria paisagens no escuro.

O ar cinza recorta os objetos em imagens difusas, reconhecíveis apenas pela sugestão.

Fecho os olhos e um novo escuro, mais denso, projeta sonhos
Que são o avesso da visão, o reverso da vida.

Uma química especial destila no sangue uma paz profunda

E inexisto diluído no sono...

Tuesday, May 10, 2005

Eu era diferente

Sinto saudades de mim.
Eu era diferente.
Tinha outro corpo.
Pensava mais positivamente.
Sonhava com mais esperança.
Hoje não.
Ando afogado em cerveja, buscando a sobrevivência,
lado-a-lado com a conveniência.
Indolente.
Esquecido no calor do sol e no brilho da lua.
Só e querendo dias mais longos, noites sem fim.
Sabendo estar perdendo muito tempo na vida.
Crescido e ainda querendo crescer.

Mas sou eu quem põe as estrelas neste céu.
E, na minha vida, o destino, fui eu que teci.

Monday, May 09, 2005

Ponto de Vista

Só aceito sentir dor humana.
Outro tipo de dor, não.
E a TV, prótese poderosa dos meus olhos,
Mostra todas as misérias do mundo:
As guerras,
As fomes,
A corrupção que gera a pobreza.
Os roubos e assassinatos
O sangue derramado...
Tudo sem cheiro, antisséptico.
E por um ponto de vista profissional, cuidadoso.
E depois, me faz apelos ao consumo.
Mostra outra vida.
Belas mulheres
Riqueza e poder.
E é a dor de não poder que me revolta.

Friday, May 06, 2005

Lista de Reclamações

As mancadas.
As faltas.
As traições.
Os Erros.
As mentiras.
Um roteiro de palhaçadas
que eu queria jogar na tua cara.
E, um discurso final
Para eu sair por cima e te deixar mal.
Ia te fazer esperar...
Mas acabei chegando antes
Esperei...

Você chegou. Sorriu. Me chamou de bobo e mentiu de novo:

-Eu te adoro, amor. Só você.

Que merda.
Ninguém muda uma linha sequer do passado.
E, porra, meu tesão não pode ser adiado.

........

Thursday, May 05, 2005

O Remédio

O REMÉDIO

Procuro aplacar minhas dores de todas as formas:

Dor de uma falta antiga, com filmes que já vi,
Mas que ainda me excitam.

Dor de ser inábil, com o fumo de cigarros proibidos.

Dor de incapacidade, com a aspiração de poeira cósmica.

Dores da minha emoção, que curo como posso:

Sozinho, inábil, faltoso, incapaz e sem emoção.

Mas, nas dores banais,
Um analgésico comum é suficiente.

Wednesday, May 04, 2005

Escapei por pouco

Em princípio pensei que era amado, querido. Mas tudo era um golpe. Mora só. Trabalha Longe. Faz Plantão. Ganha bem. Perfeito.
Saio da casa da minha mãe, com meu filho e me junto.
Mas, quis o destino mostrar o verdadeiro lado da puta.
Tudo desaba.
E o Poeta sente dor, o otário.