Friday, August 22, 2008

Reflexão LXXI (o olho da solidão)

(para Rosangela Aliberti)

A solidão tem olhos que nos espreitam insistentemente.
São olhos baços, de cor furtiva, esmaecidos, lacrimosos.
Vazios de sentido, lembrando os olhos frios dos criminosos.
Não nos sugerem nada, apenas nos olham simplesmente.

Encaram firme nosso olhar de volta, adoram jogar sério.
São tenebrosos em certo sentido, por serem ablefaros.
A solidão costuma refletir os olhares que nos foram caros.
E esse olhar fixo, ininterrupto, incomoda como um mistério.

A solidão nos olha verrumando o fluxo da nossa alma
Estranhamente, isso inquieta, mas depois nos traz calma.
Porque nada pode ser feito para fugir do seu império.

Acostumar-se aos olhos da solidão é o melhor critério
Evitamos assim, lembrar o gesto da mão que espalma
Aquele adeus final, longínquo, marcado em nossa palma.

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