Tuesday, February 26, 2008

Reflexão LIV (as torturas)

Filhas do ódio, as torturas negam a humanidade.
Ou então, confirmam a humanidade, se chegam
a dar prazer ao carrasco de alma turva
e servem de espetáculo mórbido à multidão.
Só o Homem é capaz de inflingir sofrimento e dores excruciantes.
A criatividade maldita capaz de forjar torpes tormentos:
Os tornozelos presos a uma moldura de ferro, os pés untados com óleo
E, sob os pés, um braseiro para queimar a carne lentamente até carbonizar os ossos.
Um pequeno corte na altura do estômago
Para dali irem puxando para fora o intestino.
Uma corda e um cavalo para arrastar o infeliz até desmaiar.
Reanimado, será então esfolado com facas e espadas,
E amarrado a um formigueiro para servir de pasto às formigas carnívoras.
Esticado numa roda, tem seus braços e pernas quebrados, depois içado,
fica a mercê dos pássaros para morrer lenta e dolorosamente.
Unhas e dentes arrancados a frio e pregos martelados no lugar dos dentes.
Ferros em brasa enfiados em todos os orifícios. Testículos esmagados.
O ódio desmedido chegou a condenar a mais de um tipo de morte.
E o condenado sofreu todas elas:
Acoite para anunciar o ínicio dos flagelos,
Afogamento para ir aproximando a morte bem devagar
Enforcado lentamente até quase morrer, por diversas vezes.
Até a degola final que era uma espécie de benção, uma indulgência.
Mortes por imobilização: a crucificação, a suspensão, o enterramento, a masmorra.
Instrumento de governos autoritários, aliada das guerras, a tortura permeia a humanidade ainda, asquerosa, sorrateira, escondida em porões escuros, cheios de sujidade, merda, sangue, vômito, carne queimada e apodrecida.
A tortura traduz o poder do Homem sobre o semelhante contrário, o inimigo, e é impune, já que pretensamente foi criada para punir, com requintes.
Mas, o pior é a alma esvaziada do condenado que permite um retorno inconcebível, de gostar do seu carrasco.

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