Wednesday, February 06, 2013

O problema das embalagens descartáveis

Comprei uma latinha de Itaipava na mercearia da Camilla. Sai mais barato que no bar. Só que lá não tem mesa e o jeito é sentar no murinho do quintal ao lado, sob a sombra generosa de uma castanheira. Retiro o selinho da lata, limpo com ele a colinha que persiste no bocal e bebo um gole longo e gelado. Fico em silêncio até que chegam cinco meninos magrinhos... sem camisa, bermuda até as canelas, descalços, cada um com sua prancha.
-Aê, aquela pranha custou uma moeda. Já paguei metade.
-Aê, diz o outro, perdi minha correntinha no mar. Saca quando ela fica pra trás? Pensei que tava assim, pus a mão e já era! Perdi.
-Eu tenho uma pra vender.
-Traz aí. Leva lá em casa que eu quero ver.
-Vai comprar o bagulho! Diz o maior deles para o menor, com 10 reais na mão.
O menino entra na mercearia e volta com uma Dolly dois litros, um pacote de bolacha doce e cinco copos descartáveis.
Um abre a garrafa e um outro rasga com os dentes o pacote de bolacha ignorando para que serve a fita vermelha com abinha na embalagem.
Começam a comer enquanto o menor serve a bebida
-Aê, não sou garçom não seus otários do caralho!
Os outros riem.
-Porra, beberam o meu bagulho. Pega aí quem quiser!
E larga a garrafa no chão.
-Meu, tá ligado naquela mina da praia hoje?
-Já catei, seu mané! É lá de cima da caixa d”agua.
O maior pergunta:
-Tá com o bagulho aí?
-Tô. Responde o menor.
-Passa.
Pega uma trouxinha, guardanapo de papel e começa a enrolar um baseado.
-Catou o caralho, mano. Ela falou que não.
-Tá, seu otário, e tu acreditou. Catei. Pronto.
-Foda essas novinha. Tudo catada. Depois chega junto querendo fumar.
Cigarro pronto, olham para mim pela primeira vez.
-Bóra lá em cima fumar! Diz o maior.
-Bóra! Concordam os outros.
E saem os cinco conversando, deixando no chão a garrafa vazia, a embalagem da bolacha e cinco copos descartáveis.

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