Saturday, April 20, 2013

Ônibus Lotado


Ônibus Lotado.

Uma e trinta da tarde. Já aguardava o ônibus há uns vinte minutos. Seguiria da Presidente
Wilson em São Vicente, pegaria a avenida da praia do Itararé, Divisa, em Santos, José Menino, Gonzaga, Ana Costa até a Carvalho de Mendonça. Reunião importante, estou atrasado. No ponto de ônibus vários alunos de uma escola próxima, algumas senhoras, meninas de uniforme. Ansioso, fiquei atento a todos os coletivos que entravam na avenida por uma travessa distante uns 150 metros. Então lá vem o casal. Ela vestindo uma calça cinza colada no corpo. Desenhando integralmente a bocetinha. O capozinho de fusca. Pararam a um metro de mim. Ela percebeu que eu olhava. Mulheres têm esse “radar” e sabem que chamam a atenção com esse tipo de vestimenta. Parece uniforme. Todas com a roupa marcando o corpo. Ressaltando as reentrâncias. Umas lindas. Outras expondo os defeitos físicos, bundas murchas, abdomens grossos. Aliás, essa aqui tem uma bunda bastante pronunciada, parece sofrer de lordose, mas tem uma gordura abdominal quase equivalente ao traseiro. Ficou conversando com o namorado, trocando carinhos. Olhou pra mim ligeiramente e cochichou ao ouvido do namorado que contou cinco segundos antes de virar-se para me ver. Depois, deu um passo para o lado, escondendo a calipígia namorada. Fiquei atento ao ônibus e finalmente lá veio ele. Coincidentemente, também era o deles. Deixei algumas senhoras entrarem primeiro, depois ela entrou com ele em seguida, sem me olharem. Deixei ainda mais uma mulher entrar e então fiquei nos degraus e a porta se fechou por trás de minhas costas. Avancei para a roleta seguindo o fluxo dos passageiros que iam se posicionando nos espaços vagos. Ônibus lotado. Eles estavam em pé do lado direito, encostados nos bancos ocupados. Gente de um lado e de outro. Impossível não haver contato físico. Ele me viu e, acredito que imaginou que eu tiraria uma casquinha de sua namorada, porque colocou a mão espalmada na bunda proeminente dela. Eu pensei em evitar o contato com eles, mas vi a mão dele descendo da cintura para a bunda e resolvi que não. Literalmente, um sujeito cuzão, do caralho. Lentamente forcei a passagem por eles e fiz com que ele sentisse no dorso da mão o meu volume. Felizmente em repouso. Ele virou rápido o rosto me olhando sério e inconformado. Achei que ia dizer alguma coisa, mas não disse nada. Que é que eu posso fazer, meu camarada, ônibus lotado... pensei, buscando me acomodar em um espaço vago mais à frente. O coletivo foi esvaziando e eles sentaram em um banco. Segui em pé. Na Ana Costa o casal desceu. Na calçada, ela, arrumando o cabelo, olhou pra mim por baixo do cotovelo do braço que prendia a raiz do seu rabo de cavalo e pareceu sorrir...

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