Friday, January 24, 2014

VANS, O TRANSPORTE "ALTER" NATIVO

(texto de 12 de maio de 2013)

Em São Vicente elas são permitidas e têm até uma associação. As vans, como é costume dizer, têm ponto final na Divisa, na praia, em frente ao quiosque Maravilha. O quiosque pertence ao Luciano que diz que encontrou a melhor forma de juntar mar com ilha para batizar seu quiosque, que é o mais próximo da ilha urubuqueçaba: mar e ilha, maravilha. Seguindo o pensamento do Luciano, separei o “alter” do “nativo” no título.
As vans não têm itinerário fixo. Todas elas têm uma profusão de placas no parabrisa que são substituidas à medida em que a linha seja mais lucrativa. Então começam os problemas.

De manhã cedo, o fluxo maior é dos bairrros para a praia onde o pessoal que trabalha em Santos faz baldeação. Assim, as vans chegam à praia, desembarcam os passageiros, trocam a placa para FORA DE SERVIÇO e saem à toda para retornar ao bairro e voltar recolhendo o grande volume de passageiros. Quem faz o caminho inverso, sobra nos pontos. E é o meu caso.Trabalho no centro de São Vicente e várias vans passam ao largo na avenida Ayrton Senna, ignorando meu sinal. À noite, quase nenhuma vai para a praia e muitas vezes sou obrigado a fazer o trajeto a pé. Aproximadamente três quilômetros. Além disso, existe o mau costume de andar a vinte por hora para ir coletando mais passageiros, numa marcha exasperantemente lenta. Às vezes até param para esperar pessoas distantes. Só aceleram quando são ameaçadas de ultrapassagem. Se estiver atrasado, esqueça o transporte alternativo. Todas as vans têm um co-piloto que vai gritando o itinerário a todos os transeuntes da calçada. Uma vez perguntei o porquê disso e a resposta foi que: “tem gente que não sabe ler”... E a ladainha também é irritante: Guassú, imigrantes, nautica 3! Quem vai? Guassú, vai? o tempo todo da viagem. Você sai do veículo com aquilo gravado no cérebro, repetindo...Mas, o pior é o som ambiente: quando não é música gospel com cantoras de voz empostada gritando por Jesus, é o funk falando de sexo, mulher fácil, novinhas, bate a bunda no chão, faz o quadradinho de oito, com a batida igual, insistente, sincopada e enjoativa, repetindo oito vezes a mesma estrofe. Ninguém merece! Num domingo, saí da divisa para ir a um churrasco no Japuí, pequeno bairro apertado entre a baia de São Vicente e a reserva de mata atlântica Xixová. Já fiz esse trajeto de bicicleta e gastei 35 minutos, aproximadamente 5 quilômetros. Mas, como era churrasco, eu preferi ir de van. Aguardei na divisa a van Japuí por 40 minutos, o trajeto demorou uma hora e 15 minutos. Preocupado com a volta, perguntei ao motorista até que horas as vans iriam circular e a resposta foi: hoje não tem mais. O Japuí é servido por “ônibus de linha” apenas duas vezes por dia. No final do churrasco consegui uma carona até o centro de São Vicente e de lá, a pé, até em casa...Não tive alternativa.

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